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O Elogio

 

Já perceberam como é difícil lidar com um elogio?

Quando alguém nos critica abertamente, com ou sem razão, nossa reação é imediata e automática. Boa ou ruim, uma resposta brota logo na ponta da língua!

E o que acontece quando alguém te elogia? Pior (ou melhor) em público? Não sei vocês, mas eu sou tomada por um efeito rocambole e vou me encolhendo e enrolando e derretendo e me esparramando… hahahaha E nem sou tímida, heim. Só que é verdade, nunca me sinto preparada pra um elogio. Engraçado a gente estar sempre pronto pra luta mas nunca pro afago.

Sei que isso não acontecesse só comigo, porque já vi muitos conselhos do tipo “comportamento organizacional”, orientando pra acolher o elogio, agradecer como quem sabe que fez por merecer e não ficar dando justificativas do tipo ah, imagina, foi fácil… Se for em ambiente de trabalho, claro que pega muito bem dividir os méritos com a equipe, é um jeito até de estender o efeito positivo que a gente sabe que um elogio tem.

Quando é pessoal parece que é ainda mais difícil. Quando dizem que o vestido é bonito a gente solta logo um “isso? liquidação!”; “esse cabelo? aff, deve ter sido o vento”; “meu rosto??? sinto muito, você precisa de óculos, tô um trapo”.

Difícil, né? A gente se empenha tanto em fazer o melhor, se apresentar da melhor forma possível, se sentir bem e, quando isso é reconhecido por alguém… Trava! Mas isso tem remédio e compartilho aqui o que já aprendi.

Então, recebeu um elogio?

Acredite e aceite.

Agradeça.

E retribua, sincera e espontaneamente, sempre que achar que alguém merece. Essa atitude simples pode  melhorar o dia cinza de alguém, além de não custar absolutamente na-da, nem tempo.

Sabe do que mais? É o tipo de coisa que sempre retorna. Em dobro. Porque é bom.

Quero mandar um elogio especial pra Maraisa, A Linda. Que, sem nem saber, ajudou a deixar mais colorido um dia meio cinza.


Coluna da Chris

Coluna da Chris: Já ouviu falar da Mauritânia?

 

A Mauritânia é um pequeno país islâmico situado ao noroeste do continente africano. Ali, pertinho do Marrocos. Eu sei muito pouco da Mauritânia, como o fato de terem sido uma colônia francesa (independentes em 1960), de terem uma população de pouco mais de 3 milhões de habitantes. E que, em algumas regiões desse país, nos lugares mais afastados das cidades, só as mulheres gordas é que tem valor.

Pois é nos confins dessa terra, nas tribos da região do Saara, área onde há seca e fome, que a gordura é não apenas uma questão de beleza, mas também um sinal de prosperidade. Um corpo roliço vale um bom casamento, porque os homens vêem a magreza como um sinal de miséria e doença, e não aceitam se casar com as moças magras. E, neste lugar, o casamento não é apenas uma opção para as mulheres: é o único objetivo da vida delas.

O tamanho do corpo da mulher indica quanto espaço ela ocupa no coração de seu marido. Quanto mais ela espalhar o tapete em que se senta, melhor. Mas, como tudo na vida, engordar requer sacrifícios, e as técnicas de engorda (leblouh) de meninas são verdadeiramente desumanas.

É bom lembrar que não estamos falando de lugares onde empresários abram filiais do McDonald’s. Para engordar na região desértica da Mauritânia não há biscoitos, pães doces, leite condensado ou hambúrguer. Não há bobagens para se beliscar entre as refeições. Mas há leite de vaca e de camelo, há cuscuz e há surras.

As meninas começam a ser engordadas ainda pequenas, por volta dos cinco anos. A engorda pode ser feita em casa ou em fazendas especializadas no assunto. As meninas não podem brincar e correr como os meninos. Ao contrário, ficam sentadas enquanto alguém lhes dá leite para beber em grandes tigelas. As estratégias para convencer as meninas a beber o leite incluem pedaços de madeira apertando seus dedos dos pés: enquanto sentem dor, se distraem e engolem o leite. Se vomitarem, podem ser obrigadas a lamber do chão o que desperdiçaram. Elas choram e se lamentam, mas não tem chance de se libertar.

Depois de se casarem, a luta para manter a forma continua. Nas épocas de seca, tudo é mais difícil, pois a comida é pouca. Resta esperar pelas chuvas, para que os animais cresçam e produzam mais leite. Ou então comprar remédios para engordar. Xaropes, pastilhas, corticoides… sim, corticoides. São vendidos sem receita médica, mas aumentam muito o apetite. E, é claro, as mulheres não praticam qualquer exercício físico, que seria um gasto de calorias arriscado. Com isso, estas mulheres, que passam a maior parte do tempo dentro de suas casas, sentadas, acabam ficando incapacitadas muito cedo. Elas tem apenas gordura, musculatura muito fraca e pouca saúde. Aos 40 ou 50 anos, já não conseguem mais andar. E então vão ocupar o tempo engordando as meninas das novas gerações.

A prática da alimentação forçada resiste e atinge cerca de 10% das meninas da Mauritânia. Nas tribos adeptas, a coisa é simples: mulheres gordas são lindas, e qualquer sacrifício é válido para que elas fiquem e se mantenham gordas durante toda a vida. Não tem discussão ou argumento.

É impossível não me sentir intrigada por uma sociedade em que se dê tamanha importância ao formato do corpo de uma pessoa. Em que a aparência seja mais importante que a substância, e onde as mulheres – sempre elas – sejam submetidas e se submetam a sacrifícios hediondos em nome da aparência física. E daí alguns podem pensar – bom, são tribos no deserto, né? E mais não se diz, porque é politicamente incorreto insinuar que outras culturas sejam “atrasadas”.

E daí, daí a gente liga a televisão e vê o Drauzio Varella no Fantástico entrevistando a mulher anoréxica e a outra que sofre de vigorexia. E vê no NatGeo um documentário inteirinho falando sobre o tabu da obesidade e outro sobre o tabu da magreza extrema. E os trocentos anúncios de remédios naturais, e outros nem tanto, e dietas, e programas de exercícios que vão te ajudar a não ter mais vergonha do seu corpo e a poder vestir tudo o que quiser. E percebe que vive numa sociedade que se preocupa absurdamente com o formato dos corpos humanos. E a gente nem vive numa tribo.

E depois disso a gente desliga a televisão, escova os dentes e dá uma checada no espelho, admirando a silhueta. E então a gente vai deitar, dando graças aos céus porque não precisou nem tomar litros e litros de leite de camelo para ficar mais gorda e nem enfiar o dedo na garganta para se livrar do que ingeriu na hora do jantar. E antes de fechar os olhos pensa, pela milésima vez, que foi muito bom ter se decidido a trilhar o caminho da aceitação do próprio corpo.

Coluna da Chris

Coluna da Chris: Cirurgia não pode ser um brinquedo na mão da Gordofobia

 

Gente gorda sofre preconceito. Desde sempre, desde que se é criança e algumas amiguinhas não te chamam para as festinhas na casa delas. Outras não querem nem ser vistas ao seu lado. Os meninos nunca te chamam para dançar. E tem os corinhos: gorda-baleia-saco-de-areia (outro dia me disseram que tem uma continuação feia para essa musiquinha, mas eu não conheço e prefiro continuar não conhecendo). Continua sofrendo preconceito na adolescência, na vida adulta. Dizem que até na hora da morte, preparadores de corpos e coveiros tem preconceito. Aí eu digo só de ouvir falar, nunca testemunhei.

O fato é que o preconceito contra pessoas gordas – alguns chamam (e eu gosto do nome) de gordofobia – é um dos raros ainda socialmente aceitos, e em muitos casos é até mesmo estimulado.

Há uma crença de que as pessoas só são gordas porque querem, porque são preguiçosas. Porque comem demais, e isso é imperdoável, principalmente por quem se submete a tantos sacrifícios para manter a silhueta esbelta. Mais ou menos como o sujeito que secretamente sente atração fatal por outros homens, mas se obriga a segurar a onda e manter as aparências. Geralmente é insuportável ver alguém fazer com tanta liberdade algo que você mesmo não se permite. “Como tem coragem de ser gordas, essas mulheres? Quem lhes deu esse direito?”

Bom, em muitos casos, elas mesmas se deram esse direito, e é ditatorial questionar isso. Em outros, talvez a maioria, elas nem se deram direito nenhum, elas apenas não conseguem ser de outra forma. Pode isso, Arnaldo? Olha, deve poder, porque não é possível que tantas pessoas permaneceriam infelizes dentro dos seus corpos se fossem capazes, se tivessem a força necessária para mudá-los. Não é questão de desejar, mas sim de conseguir. Mas e a cirurgia? Por que não fazem uma cirurgia? – perguntarão outros, já me perguntaram alguns.

No primeiro texto que escrevi aqui para o blog, eu falei sobre minhas experiências com os anorexígenos, bem sucedidas até a página 6. O clichê de sempre daí para frente e o final previsível. O que não falei naquela ocasião foi a respeito da banda gástrica que mandei instalar no meu estômago, que está aqui comigo até hoje e que se faz notar, vez por outra, através de câimbras na região abdominal ou de episódios de entalamento. Sabe quando você come um ovo inteiro, com casca? Não, melhor. Um ovo feito de metal. Você o engole e ele pára no seu esôfago. Então. Isso acontece comigo de vez em quando. Não com ovos de metal, que nunca comi, mas principalmente com carne.

Lá por 2006 ou 2007, eu resolvi visitar um cirurgião. Ele me deu duas opções: a banda gástrica ajustável e a cirurgia bariátrica chamada de bypass gástrico. A banda gástrica consiste em “enforcar” o seu estômago com um anelzinho feito de silicone. Esse anel pode ser inflado (o que o faz ficar mais apertado) ou desinflado, a critério do médico. Inflar e desinflar é um procedimento simples (deveria ser) feito através de um portal colocado no seu músculo abdominal. Esse portal é que me faz ter câimbras e às vezes dores no músculo abdominal, do lado esquerdo do meu corpo. É como se fosse um funilzinho instalado ali, a parte que seria aberta no funil coberta por uma borracha, por onde deve entrar uma agulha grossa. Essa peça se liga ao anel de silicone que rodeia o estômago por meio de um canudinho comprido. Basta inserir pela sua pele a agulha da seringa cheia de soro na borrachinha do portal e encher a banda. E ela vai estrangular o seu estômago. Quando você come, a comida pára na parte de cima do seu estômago e daí, dizem eles, você tem a sensação de saciedade (só que não). Depois, lentamente, o alimento vai passando pelo anel, e segue seu curso normal.

Tornando curta uma longa história, eu resolvi colocar a banda em vez de fazer o bypass por alguns motivos: primeiro, porque considerava o bypass perigoso. Pessoas morrem fazendo esse tipo de coisa. Depois, porque o bypass tem alguns efeitos colaterais, tipo exigir reposição de vitaminas constantemente (já que você “perde” um belo pedaço do seu intestino e deixa de absorver muitos nutrientes) e para o resto da vida.

Também porque esse mesmo problema de absorção de nutrientes causa queda de cabelo e enfraquecimento de unhas, o que a minha vaidade não permitia. E, finalmente, porque o bypass realmente te impede de comer, o que eu via como uma verdadeira mutilação, umas algemas que eu iria me impor a troco de… de que, mesmo? Para mim, a banda gástrica era a única cirurgia possível, porque eu não admitia a hipótese de me impor tantos limites assim e ainda ficar com um cabelinho ralo e umas unhas quebradiças.

Fui para a banda. Um dia de internação, uma anestesia geral e acordei já mais magra (auto-imagem é tudo). Durante duas semanas, eu só podia consumir líquidos, em quantidades pequenas. Depois entraram as comidas pastosas. Muito creme de qualquer coisa, muito leite desnatado batido com chocolate light, muito sorvete light. Emagreci, é claro, mas nem precisava da banda para isso. É só passar semanas à base de líquidos não alcoólicos, qualquer um emagrece. Estive no consultório do médico para inflar a banda por três vezes. As três vezes falharam e, olha, não é uma sensação legal ter alguém remexendo uma agulha gigantesca (e dourada, devo dizer, o que achava muito chique) dentro da sua barriga. Em todas as três vezes, tive que ir ao hospital, tomar contraste, fazer o procedimento numa mesa de raio-x para que ele conseguisse acertar a entrada do acesso.

Desisti da banda, embora ela ainda esteja aqui comigo. Ela me tornou menos carnívora, é certo, e mais lenta nas refeições, o que só podem ser pontos positivos. Eu nunca mais consegui comer um bom filé, porque não passa. A sensação de entalamento é muito ruim e a única saída possível é ir ao banheiro e tentar vomitar. Não é uma sensação boa, a gente se sente meio bulímica. Por isso, desisti das carnes que não sejam moídas ou processadas. E comer devagar é uma necessidade, mesmo com a banda desinflada. Desisti da banda, mas sei que um dia vou ter que procurar um gastro para ver se está tudo bem, porque esse anel pode causar erosão do meu estômago, uma coisa meio séria, e também porque episódios constantes de entalamento podem distender o meu esôfago.

Eu sei que muita gente acharia um pequeno preço a se pagar pela magreza. A gente sabe que há gente que pagaria qualquer preço pela magreza. Eu é que não sou capaz. Nem de andar para cima e para baixo tentando inflar essa banda só para me engasgar com ela depois, nem de mandar grampear o meu estômago, costurar meu intestino e ter uma incapacidade física real de ingerir o que quero. Isso me enlouqueceria, faria de mim uma pessoa infeliz e que, além de tudo, se sentiria covarde. Eu me sentiria covarde por ceder, por me obrigar, através do sofrimento, a ter um corpo que outros almejam para mim, mas que não me seduz.

Eu não me arrependo de ter colocado a banda, principalmente porque é reversível, e um dia eu vou tirá-la daqui. Por enquanto estamos em paz. Ela não me incomoda muito, eu não a incomodo em nada. Para mim, a maior prova de que fiz algo tolo é a lembrança da cirurgia. Dois anos antes, tive que fazer uma cirurgia complicada para retirar a minha vesícula gangrenada. Apesar da dor e do desconforto, dos cinco dias de internação, lembro que eu me sentia cuidada, protegida. A cirurgia da banda, ao contrário, fez com que eu me sentisse fraca, pobre, deprimida.

Finalmente, e porque é importante ressaltar, eu não sou contra as cirurgias de combate à obesidade. Acho que elas salvam muitas vidas, e há uma quantidade enorme de pessoas que precisam desesperadamente delas. Torço para que consigam realizá-las rapidamente, de verdade. E que se recuperem logo, e fiquem saudáveis e felizes. Por outro lado, submeter meu corpo a uma cirurgia por vaidade, para me enquadrar, foi apenas brincar com coisa séria. E isso eu não quero mais fazer.

Coluna da Chris

Com que Roupa Plus Size Eu Vou?

 

Semana passada eu falei sobre roupas, e sobre roupas continuo a falar esta semana. É que eu me lembrei da dificuldade que era conseguir umas roupas legais quando eu era, sei lá, vinte, vinte e cinco anos mais jovem – e uns tantos quilos mais magra (ou menos gorda). Conseguir uma boa roupa era mais que uma peregrinação ou uma aventura. Era uma conquista.

Estar disposta a gastar dinheiro numa roupa e não encontrar absolutamente nenhuma que sirva causa uma fúria, uma frustração, que poucos imaginam. Não falo aqui de roupas que não caem bem, formam uma prega, ficam esquisitas, justas ou curtas demais. Falo mesmo de entrar num provador e tentar se enfiar numa calça que não passa das coxas, embora seja a maior numeração disponível. Ou uma blusa que, caso você consiga vestir, não consegue tirar sozinha, porque os braços simplesmente não levantam. E isso em todas as lojas onde se tentasse fazer compras. Era uma sensação de absoluta inadequação, de não ser aceita.

O jeito era usar jeans, não tão difíceis de achar, e camisetas, estas bastante fáceis. Mas à medida que as mocinhas iam crescendo, tinham vontade de usar uma sainha, um vestido, pelo menos uma peça que não fosse feita de rústico brim azul (lycra não era algo que se encontrasse tanto assim) ou malha 100% algodão. E aí? Bom, aí que só quem viveu essa época difícil sabe que os dias de hoje, mesmo com todos os preconceitos que as pessoas fora do padrão enfrentam, são dias de luxo, glamour, vitória.

A primeira vez em que fui a uma loja especializada em plus size foi marcante. A loja ficava do outro lado da cidade. No caminho, ia imaginando a decepção que seria chegar lá para encontrar aqueles vestidos feitos para vovós da década de 50: retos, com estampas sem graça, sem nenhum charme ou sensualidade. Fui armada do mau humor típico das gordinhas que iam às compras naqueles tempos difíceis. Preparada para o pior.

A realidade, felizmente, foi bem diferente. Era um mundo mágico, em que vendedoras abriam sobre os balcões saias curtas com meio metro de largura. Blusas de cores bonitas. Calças de vários modelos! Maiôs, biquínis, vestidos. Lingerie que não apertava, meias que serviam, todo um mundo de cores, texturas, modelagens. E a cereja no topo do sundae, a loja nem se chamava “A Balofinha Bonita” ou “Moda Extra-Extra-Large”! Sim, porque nunca vi uma loja chamada “A Magricela Feliz”. Já as de roupas grandes, ah, estas adoravam usar nomes provocantes.

O único problema era que a loja era pequena, muito pequena. Equipada com dois ou três provadores tamanho super-minúsculos. Gordinhas suadas se atingindo com os cotovelos enquanto tentavam se manter dentro das cortininhas. Pelo menos as roupas serviam, e era um verdadeiro desfile de moças e mulheres que se vestiam lá dentro e saíam para pedir a opinião das mães, irmãs ou maridos que esperavam lá fora.

Isso tudo foi só o começo. De lá para cá, esta mesma loja abriu dezenas de filiais, e as lojas são maravilhosas. Provadores grandes, espelhos grandes e, acreditem, até os assentos dos vasos sanitários são maiores, mais redondos, confortáveis. Além desta loja, há outras marcas que vendem exclusivamente roupas grandes. Lá, cada gordinha é uma rainha em potencial. Amigas magrinhas às vezes se ressentem: mas eu gosto do tipo de roupa que fazem lá, por que não fazem tamanhos pequenos? Não deixa de ser uma pequena vingança…

A vida anda mais fácil, ao menos neste aspecto. Nas grandes cidades, as mulheres plus size encontram lojas de todos os tipos, que vendem roupas para todos os gostos e todos os bolsos. Alguns grandes magazines e lojas de departamento também oferecem pequenas, mas bastante simbólicas, coleções de roupas grandes.

Mas nada me diverte e me alegra mais do que, passeando por uma rua qualquer, ver uma manequim gorda enfeitando uma vitrine em meio às outras bonecas longilíneas. É como se fosse um código, chamando todas as mulheres para entrar sem medo, porque nenhuma vendedora vai levantar as sobrancelhas e dizer, com algum deboche, “não temos o seu tamanho”. Na verdade, elas vão se esforçar para encontrar algo do seu tamanho, mesmo que você seja gorda demais. Porque, nestas lojas, é uma questão de honra ter uma roupa para cada pessoa que entrar ali. Honra e comissão. Mas é delicioso, seja como for.

E há os desfiles! Mulheres gordas vestindo roupas lindas e mostrando as tendências… parece pouco? Imagine o que é passar a vida lendo revistas, vendo televisão, recebendo notícias apenas sobre roupas que não são feitas para você e que fazem questão de te excluir. Vivendo numa sociedade que valoriza tanto o que se veste, parece que você sequer existe. Eu nunca fui a um evento de moda plus size, mas o simples fato de saber que eles acontecem aquece meu coração. Alguém faz isso para mim, para pessoas como eu. É a validação da categoria!

Poder cultivar as pequenas vaidades femininas é importante, e tenho a certeza de que também foi um fator preponderante para que as mulheres gordas passassem a se valorizar mais. Nunca mais ter que ir a meia dúzia de casamentos num só ano vestindo o mesmo vestido preto de sempre. Tem coisa melhor?

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