Tudo bem, não estava nada difícil encontrar a felicidade ali, confortavelmente imersa em Génifique com a aplicação gestual mágica da consultora. Mas escolhi essa foto por um motivo especial que aparece no destaque: o sapatinho com lisianthus laranja pastel.***
Sapatos me fazem feliz.
E não estou sozinha.
Sábado aconteceu uma coisa inusitada, num café dentro de uma dessas mega livrarias. Estava esperando alguém e peguei um livro, que nem é novidade, para matar o tempo. Pedi um smoothie de frutas vermelhas e posso dizer que fiquei ali por mais de uma hora totalmente entretida com a leitura.
A bebida acabou e resolvi dar uma volta, porque já estava quadrada de esperar sentada. O livro era realmente muito divertido, eu ia comprá-lo, mas antes precisava pagar a conta do café.
Na fila do caixa, uma moça, provavelmente da mesma faixa etária que eu, quase da mesma altura, com as unhas pintadas com um desses vermelhos tomate super na moda veio falar comigo.
– Você já leu esse livro?
Expliquei que tinha começado a ler ali mesmo, mas que ia comprar.
– Eu já li. O outro também, da mesma autora. Me identifico muito com eles.
Os livros são ‘Sapatrólatas Anônimas’ e ‘Segredos de uma Sapatólatra’, ambos de Beth Harbison. (vocês esperavam alguma coisa mais no estilo ‘O Segredo’, fala a verdade? rs)
Ela disse que tinha me visto lendo e, olhando meus sapatos, concluiu que eu também seria do time das Sapatólatras. Não as do livro, que usam Jimmy Choo, Magli e Manolo, mas que não dispensam um parzinho nacional, etiquetado ou não, mas que tenha uma certa identidade; que conte uma história sozinho, independente da roupa.
Tá? A moça fez a leitura do meu closet ali mesmo, na fila do caixa.
E contou que ela também compartilhava a adoração pelos pisantes. Inclusive tendo que abrir mão de um negócio – uma loja que vendia…sapatos! – porque, na época, o vício fugiu ao controle.
E então eu percebi que a conversa era séria.
Conversamos mais um pouco, paguei minha conta e saí, mas não consegui tirar o episódio da cabeça. Foi bacana e melancólico ao mesmo tempo, porque a identificação de uma sapatólotra por outra, por si só, já é bem engraçada.
A melancolia é porque senti a tristeza na voz dela quando me contou sobre perder o controle das contas, da loja (ou seja, de uma parte grande da vida) por conta de um vício aparentemente inocente, mas que acabou se mostrando bem sério depois.
Mesmo agora, escrevendo sobre isso, sinto aquele misto de emoções conflitantes que experimentei na fila. Sim, sapatos são um ticket à jato pra minha felicidade. Nunca perdi uma loja por conta da minha obsessão por eles, mas já deixei de pagar uma conta pra pagar outra, podem ter certeza. Mais de uma vez.
Pro meu próprio bem, faz um tempo que entendi que aquele vazio que quase todo mundo sente, aquela vontade não sei do quê, nunca se preencherá com compras. Sejam sapatos, roupas, maquiagem, jóias, nada. É uma necessidade muito mais antiga, ancestral mesmo, de conteúdo intangível e sentido, que a gente preenche momentaneamente com coisas. Uma felicidadezinha efêmera, que vale a pena, sim, desde que não traga prejuízo ou conflito, trinta dias depois, na chegada da fatura.
Posso dizer que vivo de tropeços e de acertos. Às vezes me rendo, outras me controlo. Nem sempre dá certo, mas o importante é manter o equilíbrio pelo menos como objetivo. Atingi-lo ou não vai depender do momento, das escolhas. E isso provavelmente serve pra tudo na vida, né? De sapatos à carreira profissional.
Histórias de pessoas com as quais me identifico me fazem feliz.
Sim, sapatos também.
*** esses são Arezzo