Alguns mitos sobre as pessoas gordas em geral mas que, por algum motivo são ditos mais vezes sobre as mulheres gordas: são sempre alegres e bem humoradas, a melhor amiga que se possa ter; embora sejam gordas, tem rostos bonitos; são as melhores amantes, até porque estão sempre disponíveis; são pessoas doentes, com veias entupidas e esteatose. Acho que cada um deles vale um texto, porque ideias pré-concebidas são sempre nocivas e potencialmente dolorosas para quem se encaixa naquilo que está sendo julgado com tanta severidade.
Vou, então, começar pelo último item da minha listinha: a saúde.
No Brasil, um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, divulgado no final de 2010, indicou que 48% das mulheres tem sobrepeso ou obesidade. A gente sabe que sobrepeso ou obesidade podem estar relacionados a muitos fatores: má alimentação, herança genética, problemas glandulares, sedentarismo, etc.
Embora muitas pessoas usem o argumento da “saúde pública” para justificar discursos verdadeiramente gordofóbicos, a verdade é que a maioria absoluta de quem é seriamente intolerante com a gordura alheia se incomoda mesmo é com a forma e o tamanho. Delicadezas de lado, se tantas pessoas estivessem interessadas na saúde de gente que não conhece, provavelmente a nossa sociedade seria mais justa.
Mas o que é importante dizer, a esta altura, é que entre esses 48% da população feminina que está acima do peso, realmente há pessoas doentes. Da mesma forma, há pessoas doentes entre as mulheres que vestem tamanho 36 (ouvi dizer que 36 é o novo 38, corrijam-me se estiver errada; usar 38 não é ser assim tãooo magra hoje em dia!). E há pessoas saudáveis de todos os pesos,
pessoas que cuidam da saúde e fazem exames com frequência para se certificar de que tudo anda bem.
Em termos de saúde e hábitos, a única coisa que você pode dizer sobre uma pessoa gorda apenas olhando para ela é exatamente isso: que ela é gorda.
A mera visualização não fornece índices de colesterol, pressão arterial ou esteatose (popularmente conhecida como “gordura no fígado”, mal que acomete magros e gordos sem distinção), bem como não indica se ela é sedentária ou se toma todas as noites uma lata de leite condensado antes de dormir. Acreditem. Sou a prova viva disso.
É necessário frisar novamente que eu não acho que as pessoas devam se manter gordas ou magras, mas que acredito fervorosamente que é preciso que a gente seja capaz de amar o próprio corpo. Porque é uma sensação muito boa essa de se olhar no espelho e poder sorrir com satisfação ao se ver no vestido novo, na blusa nova, no jeans justinho, no sutiã de bojo. É uma sensação capaz de fazer o mundo ter novas cores, novos brilhos.
Quando eu era mais jovem, confesso, tinha uma imensa dificuldade em lidar com isso. Porque, ao mesmo tempo em que a imagem no espelho me agradava, parecia muito errado que eu gostasse dela. Era ridículo eu me achar bonita, se “todo mundo” me achava… gorda. Nem feia, nem bonita, gorda. Ou melhor, poderia ser linda, se não fosse gorda. E isso era um tremendo freio. Se todo mundo acha uma coisa e eu acho outra, então eu estou errada, certo? Errado!
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sempre linda: girlwithcurves.com
Primeiro porque, obviamente, “todo mundo” está pouco se importando comigo ou com a minha aparência. No meio dos mais de 7 bilhões de habitantes deste planeta, é de duvidar que uma única pessoinha, pequena se comparada à imensidão do mundo (ainda que enorme se comparada com mulheres de 1,50m e 40 quilos) vá ser objeto de tanta desaprovação.
Segundo porque eu tenho todo o direito de ter o corpo que quiser e ao longo da minha vida encontrei muitas pessoas que gostam de mim não “apesar de eu ser gorda”, mas pelo meu conjunto completo: o cérebro, o corpo e estes olhos verdes desconcertantes que a terra há de ter o bom gosto de preservar.
Alimentar traumas, dores, tristezas e esse insano medo do julgamento alheio não é divertido e é provavelmente a “doença” mais séria que acomete gordinhas inseguras ao redor do mundo. Não se dar o direito de se sentir bem com uma roupa nova é triste e muito cruel para que a gente se permita fazer isso. Amo minhas curvas. Elas me formam e me completam. E, é claro, a partir do momento em que a gente ama o próprio corpo, a gente trata bem dele, por dentro e por fora, cuida da saúde e também da aparência.
A armadilha fácil de relacionar excesso de peso com falta de saúde é preconceituosa e, como todo preconceito, deve ser combatido com informação e ações afirmativas. Quanto mais gordinhas desfilarem seus adoráveis corpos roliços nas academias e ciclovias, com seus exames em dia e o colesterol menor que 200, menos pessoas poderão usar essa justificativa ao explicar porque se incomodam de forma tão excessiva com o peso alheio.
Anna Christina