Peço licença e reedito esse post. Lá se vão mais de dois anos desde que foi escrito e tão pouca coisa mudou.
Minto. Hoje acredito que estamos mais dispostos a não tapar a realidade com a peneira. Pelo menos não o tempo todo. A gente quer ser feliz, lógico, mas atualmente a consciência de que nossa felicidade se multiplica quando a do próximo – ainda que desconhecido – também acontece, é maior. Ser feliz todo mundo junto é muito mais gostoso.
E pra isso a hipocrisia tem levado uns tapas na cara, da gente mesmo, que perdeu um pouco do medo de pensar e, olha que perigoso, nos atrevemos a expressar opinião. Mesmo que apanhe um pouco no rebote. rsrs
Pelo menos eu estou feliz aqui no nosso pedaço. A gente ama essas coisas bonitas e brilhantes da superfície, mas também aprecia uns mergulhos mais profundos. É bom conhecer essa outra parte do mundo, mais escura, um tantinho perigosa, mas tão revigorante, que consiste em simplesmente parar para pensar.
Sempre se fala muito sobre desarmamento, a origem das armas, o perigo, a violência e a morte que sempre permeia tudo isso.
Será que a (im)possível extinção de toda e qualquer arma existente no planeta vai realmente dar conta do problema, se a essência, a semente de toda tragédia nos acompanha desde sempre; a pura maldade, continua solta?
O gatilho do ódio não é físico e nem pode ser arrancado das mãos humanas. O sentimento torpe de intolerância, julgamento e perversidade é sutil e transita livremente em qualquer sociedade, mesmo aquelas que se fantasiam de modernas e sofisticadas.
Violência é feita de tiro, pancada e palavra. De uma espécie ou de outra, sempre sangra, por fora ou por dentro, e do mesmo jeito que uma facada deixa cicatriz. O rancor social tatua a discriminação e é refletido no nosso comportamento, na maneira como enxergamos e tratamos outras pessoas. Quem é atingido pela mágoa guarda a marca indelével. Há quem mostre, há quem esconda. Assim como há quem exploda.
Estão vendendo “a verdade de todas as coisas” na Bolsa de Valores. Nunca vi tantos donos pra uma coisa que, para e pensa, não pertence a ninguém… Mas donos da Verdade? Pff, é o que mais tem!
Não se iluda, esse é um mercado é flutuante. Hoje A Verdade é sua, amanhã ela é minha e depois sabe-se lá de quem será.
Pra garantir é melhor adotar comportamento de zona de guerra: pegue seu pedacinho de verdade e use-o sempre junto ao corpo. Não saia por aí esfregando algo tão valioso na cara dos outros, pois o gatuno oportunista pode levá-lo num piscar de olhos. E o dono da Verdade ficará fitando o vazio, sem foco, sem lugar para apontar o dedo.
O mundo está ficando chato. Se você tem uma opinião é tendencioso. Se você não tem é alienado. Se reflete sobre um assunto e não concorda é recalcado. Se você concorda, é fascista. A liberdade de pensamento foi substituída pela inevitabilidade de julgamento.
E do julgamento só está livre aquele que se cala sob qualquer circunstância. Estamos condenados a viver em cima do muro ou desenvolver uma carapaça blindada, feita sob medida para o convívio social.
Poderíamos começar, então, por inutilizar o veneno das cabeças. Depois desarmar a língua e o coração das pessoas. E aí, quem sabe, em posição de igualdade com o inimigo, jogar fora as armas de fogo.
Até porque o desgosto por viver uma vida tão sem graça também mata. Lenta e silenciosamente. Morte por ignorância, como convém.