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Coluna da Chris

Coluna da Chris: Quando você deixou de se achar bonita?

 

Não é de hoje que a marca Dove promove campanhas belíssimas para estimular a autoestima das mulheres do mundo todo. É uma iniciativa tão fundamental e tão necessária que a gente se pergunta porque é que outras marcas, de igual alcance, não pensam em fazer o mesmo. Quando se fala de autoestima, a mensagem não pode ser subliminar: ela tem que ser clara e contundente. Aqui, esse é o seu corpo: você não deve ter vergonha dele.

Outro dia vi um dos vídeos da marca. Não sei se é o último; se não for, é um dos últimos. O nome é “Dove Câmera Tímida”. A pergunta que acompanhava o vídeo que me chegou: “quando foi que você deixou de se achar bonita?”. E isso me provocou um verdadeiro momento de reflexão: quando foi que EU deixei de me sentir bonita? E por quê?


Eu fui uma criança bonita. Na minha época, crianças gordinhas eram consideradas bonitas. Então, eu, com a minha pele muito clarinha, carinha redonda, os olhos verdes e o cabelo de franja, era uma menina bonita. Meus pais me diziam isso. Outras pessoas me diziam isso, ou diziam isso de mim, para minha mãe – que menina bonita!

Eu não duvidava disso nem por um segundo. Não era o tipo de menina super vaidosa, aliás, acho que não era vaidosa em absoluto, e nem extremamente consciente de como me parecia. Mas posso dizer com razoável certeza que durante a minha infância e primeiros anos da adolescência nunca tive qualquer insegurança por conta da minha aparência física. Fui uma menina feliz, muito extrovertida e, confesso, boboca e infantil até onde pude ser.

Já na adolescência, algumas coisas me causavam estranheza, não o suficiente para abalar demais a minha autoestima, mas ainda assim… Meninos não me chamavam para dançar nas festinhas. Eu era maior que eles. Maior de todas as maneiras possíveis. Não era de admirar, portanto. Sobrevivi bem a isso, porque, honestamente, a maioria dos meninos não era tão interessante a ponto de me fazer lamentar. E os que eram, bem… estes eram interessantes para todo mundo. Não ser chamada para dançar por eles não era exclusividade minha.

É claro que durante a minha infância e a adolescência sofri a minha dose de bullying. Mas mesmo isso não foi o bastante para me fazer consciente de que existia um padrão e eu estava fora dele e que as tentativas para me enquadrar seriam difíceis. Eu me aceitava, eu aceitava os outros, todos também com seus pontos fora da linha.

Os primeiros anos da minha juventude foram animados e tiveram todos os dramas de amores previsíveis. E então veio a vida adulta. E essa sim foi cruel. Porque, de alguma maneira, eu passei a atribuir tudo que dava errado na minha vida, todas as expectativas e amores frustrados à minha aparência. E passei também a conviver com pessoas para quem um tipo específico de aparência física era importante.

Não que as pessoas dissessem para mim que eu era indesejável. Elas diziam isso a respeito delas mesmas. E se estar com três, cinco quilos a mais as transformava em gordas horríveis e pouco atraentes, no que os meus muitos quilos a mais ME tornavam? Num monstro, provavelmente. Eu fui me deixando contaminar. Fui aprendendo que era errado ser como eu era. Comprei as inseguranças de todas as mulheres do mundo e passei a acalentá-las.

Em resumo, eu deixei de me achar bonita quando preferi me enxergar da maneira como achava que os outros me enxergavam. É curioso como vejo mulheres olhando suas fotos de 10, 20 anos atrás e dizendo “eu era tão bonita, e me achava tão feia…” ou “era tão magra, e me sentia tão gorda!” ou ainda “daria tudo para ter essa pele/esse cabelo/essa cintura”.

Você algum dia deixou de se achar bonita? Faz tempo? De lá para cá, o que você fez para mudar não a sua aparência, mas a sua maneira de se olhar?

Se eu pudesse dar um conselho para a Chris de 10 anos atrás, não seria para que emagrecesse ou mudasse a sua aparência, e sim para que mudasse a maneira de se olhar no espelho. Diria para ela que isso pode não ser fácil, mas é mil vezes mais simples e menos doloroso do que se odiar. Diria para ela, enfim, que ela deveria ser mais como eu sou hoje, ou melhor: ser mais como eu serei amanhã ou depois de amanhã. Cheia de confiança. Bonita pra caramba, com uns poucos pontos fracos e avassaladores pontos fortes. E feliz.

Blogs

Sincericídio

 

Tanto tempo que eu queria escrever esse post e ficava esperando um daqueles momentos em que tudo está em ordem, a mente calma e o coração tranquilo. Resultado, o post não saia nunca, porque, né? Coração tranquilo? Até parece que não me conheço, pra sonhar com um momento desses.

E então que resolvi simular esse momento de plenitude agora. Silenciar – à força – o ruído da vida acontecendo, que é justamente pra poder falar dela com mais clareza. Sabe quando a gente se afasta do quadro pra enxergar a composição inteira, não só os detalhes? Bem assim.

Eu tinha um blog pessoal, tipo diário/caderno de anotações, onde eu despejava minhas impressões sobre tudo. E tudo é tudo no sentido mais transbordante da palavra; podia ser uma descrição do meu teste pra tirar CNH como algum absurdamento meu em relação ao Governo vigente. Era bom. Eu falava o que queria e algumas pessoas gostavam de ler, compartilhar seus pontos de vista sobre o mesmo assunto. Era um mundo tranquilo. Fiz amizades verdadeiras ali.

Nessa história de falar sobre tudo, sempre tinha um assunto muito recorrente, que eram – oh, que surpresa – os cosméticos. Natural, né? Sou mulher, sou brasileira, não desisto nunca; óbvio que meu consumo desenfreado de produtos de beleza acabava ganhando atenção especial no meu diário. Sendo grande parte do meu “público leitor” do sexo feminino, era mais natural ainda que as postagens sobre o assunto gerasse super, mega interesse. O resto dessa história a maior parte de vocês já conhece, foi daí que Ana Farias e eu nos unimos pra criar o Trendy Twins e foi esse meu passaporte para o que então eu não conhecia, mas já existia, o chamado nicho dos Blogs de Beleza(e Moda).

Era o quê, 2008? Um período maravilhoso. Lógico que quem escreve e publica no blog é o chamado autor, mas era a partir dos leitores que a mágica acontecia. Estávamos nós ali, conversando cara a cara com mulheres de verdade, sobre dúvidas corriqueiras sobre curvex ou o melhor jeito de passar blush. Na lata. Perguntou, respondeu. E em seguida alguém acrescentou. E veio outro e esclareceu. Assim por diante, a convivência diária de milhares de vizinhas cujo único endereço em comum era fixado na tal www.

Todo mundo era blogueiro, mas veja só, todo mundo também era leitor! Nós nos frequentávamos mutuamente. Existia afeição. Respeito, admiração. Preste atenção, você que chegou aos blogs de moda/beleza outro dia: em 2008/2009 todo mundo era amigo de todo mundo. Literalmente. Amigo de cantar refrão, de pagar mico junto (desafios de maquiagem temáticos, nossa quantos…). Outro
dia levei um susto, vendo foto minha de roupão, junto com outras blogueiras, no Google Images. Uma coisa assim, espontânea, sinto muito, mas você que chegou agora não vai mais presenciar.

Só tinha uma coisa que eu não entendia bem, não conseguia digerir, sabe? Por mim eu estava ali pra falar de como EU fazia minhas coisas. De como EU me virava pra chegar no resultado X. Do que EU tinha achado. Pra mim, a única coisa que tinha mudado em relação ao meu blog-diário é que agora o assunto girava sempre em torno de beleza e muito mais gente estava lendo. Só isso. De resto, era eu, sendo eu.

Mas isso não bastava mais. O mundo mudou e as pessoas, de uma hora pra outra, começaram a olhar para bloggers como quem olha para um Oráculo de sabedoria. Não eram mais dúvidas, nem troca de experiências. O autor deixou de ser um companheiro de caminhada para ser um líder em direção ao horizonte. O texto mudou de olha como eu fiz para “você tem que fazer assim também, se quiser ser igual a mim”.

Caí das pernas.

Gente, por favor, não sejam iguais a mim! Eu nem sei o que estou fazendo aqui, nesse vasto mundo de meu Deus! Quem sou eu na fila do pão?! A ideia de alguém tendo altas expectativas sobre minha opinião decisiva sobre a marca tal e o produto T simplesmente me deixa zonza. Porque eu não sei até que ponto você tem a pele igual a minha, o fio de cabelo como o meu. Quando você diz que só vai comprar o tal produto depois que eu fizer uma resenha… olha, morre um bebê panda no meu coração.

Porque eu quero que você continue aqui, perto de mim; a gente conversando e trocando impressões. Adoro estar sempre por dentro dos melhores lançamentos, dos tratamentos, das novidades e ofertas nas lojas. Tudo pra gente ter assunto, pra conversa rolar. Mas eu não posso (eu não quero!) te dizer exatamente o que consumir. Eu não quero vender coisas diretamente pra você. Não sou vendedora. Sou curiosa, apaixonada pelo ramo, experimentadora. Eu uso e mostro o que pude conhecer de perto. Mas podem acreditar, não é isso que esperam de mim, hoje em dia.

E não estou falando só de anunciantes não. Porque do anunciante que vem e declaradamente compra um Publieditorial ou Banner, esse que quer que eu apresente o produto dele pros meus leitores, tudo bem, com ele eu não tenho problema nenhum, ele é honesto, sério, e mais do que bem vindo. Mas sempre tem quem queira que eu te chame de Amiga e, sutilmente, te diga que você não pode viver sem o Batom G do momento. Isso até semana que vem, quando o batom do momento será o Batom R e aí eu que me vire, pra que você acredite nessa minha opinião, que não dura sete dias corridos.

Mas eu disse que o problema não estava nos anunciantes. Sabe por que? Porque sou adulta e sei distinguir meus valores. Ninguém me obrigada a aceitar nada, então, pra proposta obtusa e desonesta, é super simples e sem drama: a gente fala não. E segue em frente. Pobre, mas limpinha.

Só que.

O que está acontecendo com o público leitor?

Sim, porque aparentemente não tem muita gente interessada em nada que vá além de fatos & fotos, ou de respostas rápidas a perguntas como: você acha que devo comprar esse ou aquele. Ou os quatro? Que sandália é essa, não sabia que existia mas sempre quis uma! Posta foto da sua cesárea, por favor, a minha é semana que vem e preciso de inspiração!

Gente, que tristeza. E estou falando muito sério sobre essa melancolia. O que faz a gente ser o que é, individualmente, como pessoa de carne e osso, são nossas escolhas. NOSSAS ESCOLHAS. No momento em você permite que todas as suas escolhas sejam baseadas em inspirações que partiram das escolhas de outras pessoas, que também se inspiraram em outras pessoas, isso te transforma em quê? Num inspired de ser humano? Quem é você?

Por favor, escolha sua própria armação de óculos; a saia que você vai usar; a bolsa que combina com a maior parte das suas roupas, não com suas curtidas no Instagram.

Seja você, seja inteira. Pra gente poder voltar a conversar e a trocar pontos de vista diferentes, já que nesse momento, não precisamos nos preocupar em gastar o latim, é só copiar e colar, porque todo mundo está falando exatamente a mesma coisa. E muitas vezes essa mesma coisa está longe de estar certa. Imaginem um eco infinito de uma bobagem dita por alguém “gerador de opinião” (atualmente gerador de opinião, no mercado de blogs, é sinônimo de gente que influencia decisão de compra. Verdade nua e crua. Essa é a vida).

Eu quero propor um trato: vocês voltam a se mostrar como são, sem medo de ser feliz e eu volto também, livre dessa conduta engessada que adquiri por rendição, no ritmo artificial das coisas, por medinho de ser deixada pra trás.

Como já disse o poeta: vamos nos permitir. A sabedoria popular diz que muitas vezes é preciso dar passos pra trás antes de seguir em frente. Eu sugiro que a gente faça uma maratona de costas e volte ao ponto de partida. Um que seja mais realista e humano.

Por favor, vamos?

Um beijo!

Coluna da Chris

Coluna da Chris: Falando da Novela

 

A atual novela das 9, Amor à Vida, tem de tudo um pouco. Tem vilão gay. Tem mocinhos gays. Tem mocinha boba. Tem criança perdida/encontrada/roubada/misturada/disputada. Tem a menina bonita doente. Tem o moço bonito malvado. Tem médica que mente, ex-chacrete que vende cachorro quente e periguete engraçada. E tem também uma gordinha recordista de clichês, o que não é pouco se a gente pensar que essa novela é tão cheia de clichês que dá até enjoo.

A personagem é Perséfone, interpretada por Fabiana Karla. A tal Perséfone é enfermeira, virgem, dirige um Fusca, veste roupas que provavelmente herdou da avó ou de uma tia bem velhinha e, mais que tudo, é carente. Daquele tipo de carência que sai pelos poros, escorre pelo rosto, mancha a gola da blusa e amarela qualquer tecido. A luta atual da moça é para perder a virgindade, o que tem se demonstrado uma tarefa absurdamente difícil. Ninguém quer a Perséfone, embora ela seja uma menina tão inteligente, generosa, simpática, carinhosa e alegre.

É difícil explicar para alguém que não sofra esse tipo de discriminação velada o quanto essa situação da personagem pode ser aterrorizante. É como se todos os seus traumas, todos os seus medos, fossem escancarados. Sabe? Como se você passasse os dias tentando se convencer de que os monstros que vivem embaixo da cama são coisa da sua imaginação e de repente alguém te mostrasse uma colmeia de monstros que vivem embaixo da cama de alguém que se parece muito com você.

O fato da Perséfone se dispor a cozinhar para o alvo de seu encantamento é muito revelador. O moço não a convida para jantar num lugar bonito, ela é que consegue convencê-lo a ir visitá-la. Então ela serve um prato com camarões, ele tem uma crise alérgica. Passado o susto, novo jantar, de novo na casa dela, e dessa vez nada de alergias. Só que o moço brocha antes mesmo de tirar a roupa. Mas ela não desiste, e no dia seguinte vai lá convidá-lo de novo para jantar. Então ele diz que ela não leve a mal, mas que pra ele, tem que ter amor… que ela é gente boa, claro que ele gosta dela, mas que tem que ter aquele tchammm… e não tem.

Acho que o grande problema na situação toda, para mim, é o fato de que o autor não dotou a personagem das emoções típicas de uma mulher. Ela não se apaixona pelos sujeitos, ela quer apenas perder a virgindade com eles. Até por isso, as rejeições que sofre não lhe trazem aquela tristeza aguda,ou alguma raiva que a faça ofender alguém. A Perséfone é rasa e sempre disposta a continuar tentando, sem nunca realmente acusar os golpes, sem nunca se abater pelos tocos que leva sem nenhuma piedade. Ela continua sorrindo, continua boazinha, continua carente.

As reclamações a respeito da postura da personagem já andam circulando por ai há mais de um mês. As pessoas pedem que o autor mude a história, que dote a Perséfone de alguma força, algum amor próprio, que a faça ser “uma pessoa como as outras”. No dia 4 de junho, ele, o autor – Walcyr Carrasco é o seu nome – defendeu a sua história na Revista Época. Disse que ele já foi gordo, e que ainda é gordinho. Contou histórias de seus dias mais gordos. Afirmou que existe preconceito, sim. Nas suas palavras, “Obesidade pode ser uma questão de saúde. Ou de reeducação alimentar. Mas não pode se tornar um problema de rejeição social”. Chegou atrasado, Walcyr. Isso já está devidamente estabelecido na nossa sociedade.

A promessa final dele é que haverá surpresas no final da novela. As gordinhas o agradecerão. Agradecerão o que, Seu Walcyr? Se esta é uma história em que a mocinha “menos favorecida” se ferra a novela inteira para ter alguma redenção totalmente descabida no final, essa história já foi contada algumas vezes. Seguir este caminho é só insinuar de novo que gorda = feia, mas que até as feias podem se dar bem. Não tem surpresa nenhuma aí. Surpresa mesmo seria colocar, na novela das 9, uma personagem gordinha que fosse bem resolvida, que se vestisse bem, que mandasse o sujeito às favas e xingasse um pouco a amiga problemática, os médicos folgados, os homens que a olham com desdém. Daí sim a gente veria alguns clichês serem contrariados, Walcyr. Daí sim a gente se sentiria mais bem representada.

Nota da Vivi: sem falar na questão da profissional “Enfermeira Perséfone”, né? Fica evidente a postura submissa e insegura, até em relação a tia da cantina. Falta de autoestima e profissionalismo em proporções semelhantes. Clichê brabo, amador.

Coluna da Chris

Coluna da Chris: Solteirice

 

E depois do dia dos namorados, e de dicas sobre como arrumar namorados e simpatias para o Santo Antonio para arrumar namorado, nada melhor do que falar sobre a solteirice, essa situação que, apesar de atingir declarados 48% da população brasileira (dados do IBGE – 2011), continua sendo vista por tanta gente como uma situação desfavorável, negativa mesmo.

E, é claro, na nossa sociedade ainda tão machista, essa questão atinge de forma muito mais violenta as mulheres do que os homens. Um homem solteiro aos 40 anos é visto com um tipo ainda em tempo, provavelmente um conquistador, cheio de mulheres à disposição. No dia em que quiser, ele se casa. Opções não faltam, e ele está em plena idade fértil. Um homem de quarenta anos é um bom partido.

Já uma solteira de 40 anos, para ser assim tão bem vista, tem que ser muito, mas muito bem sucedida. Uma mulher com uma carreira sólida, que ganhe muito dinheiro: isso explicaria porque ela não teve tempo para se dedicar a um relacionamento, o que não é desabonador. Ela que não se descuide, mesmo assim. Ser rica e bem sucedida funciona até certo ponto, mas se ela não se mexer logo, acaba ficando para tia. E quem é que deseja um destino desses?

A coisa da solteirice para a mulher é tão avassaladora que até o pronome de tratamento utilizado é diferente para mulheres solteiras ou para aquelas que já se casaram. Conforme relembrado esta semana pela psicanalista Regina Navarro Lins na sua fanpage, “as designações para a mulher demonstram seu status – senhorita (que não tem homem) ou senhora (que tem ou já teve, mas ele partiu ou morreu)”.

Seria bom imaginar que, nos dias que seguem, as pessoas tivessem se desvencilhado deste tipo de rotulação que poucas vezes é verdadeira. A maior parte das solteiras que eu conheço já teve homens, muitos até. Apenas não se casaram com eles. O que, aliás, ainda não é visto por muita gente como um comportamento elogiável.

Não faz muito tempo, passei por uma situação que foi ao mesmo tempo irritante, cômica e muito ilustrativa. Eu fui encontrada no Facebook por uma mulher que foi minha amiga de infância. Morávamos em ruas próximas, brincávamos juntas. Um dia ela se mudou e nunca mais nos vimos. Pelo menos uns 30 anos de ausência. Então ela me buscou, achou e estava muito curiosa para saber tudo a meu respeito.

Tranquilamente contei, numa conversa virtual, que estava tudo muito bem, que moro com os meus pais porque gosto muito de estar com eles. Que a minha vida é boa, que sim, meus irmãos se casaram e tem filhos, e sim, fiz uma faculdade, e trabalho, e sinto-me bastante feliz, uma vida da qual não posso reclamar.

Foi quando ela, com muito cuidado, disse que precisava me fazer uma pergunta bastante pessoal. Esperei, já imaginando o que viria por aí. Ela disse que eu, quando menina, era bonita, muito inteligente e “popular”. Que ela se lembrava de eu ser muito extrovertida e sociável. Como, portanto, eu tinha ficado solteira? Por que nunca havia me casado? Eu já havia me relacionado com pessoas? E, finalmente – “pessoas de que sexo?”.

Respondi, como poderia ter não respondido. Realmente não me preocupei minimamente em desfazer enganos. É que já nem me espanto por notar que, em pleno século XXI, uma pessoa da minha idade pense que a explicação para a solteirice de uma mulher de quarenta e poucos anos tenha que ser essa, o que mais provavelmente seja essa. Como se ser solteira fosse uma maldição reservada às mulheres que não gostam de homens.

Eu nunca fui casada, logo não posso fazer grandes comparações entre uma situação e outra. Posso, apenas falar sobre como é estar solteira aos quarenta (e pouquíssimos) anos. É bom, é muito bom. Se você tiver pais maravilhosos, que valorizem a sua presença e que sejam seus companheiros na vida. Se tiver amigos e amigas com quem contar. Se tiver bons homens (ou boas mulheres, se for o caso) com quem partilhar bons momentos antes de voltar para sua casinha quente. Se tiver um trabalho, ou uma ocupação, que te faça sair de casa com prazer para viver mais um dia. E se tiver sobrinhos maravilhosos. Porque, se tem uma coisa que definitivamente é deliciosa na solteirice, é esta: virar titia. Com direito a muitos mimos e beijos com gosto de doce.

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