Caras é aquela revista que a gente quase sempre vê nos consultórios médicos e que sempre – sempre, sempre – encontra nos salões de beleza. Formato grande, pra chamar a atenção. Quem vê caras, vê tudo! Sobre celebridades.
A Caras é uma revista tão curiosa que uma amiga minha, ao renovar a sua assinatura de outra revista, acabou levando a da Caras junto. Porque a assinatura da outra revista ficava mais barata se ela comprasse também a da Caras. E ainda ganhou a coleção Petit Casseroles completa, coleção que mais tarde seria desfeita, pois cada amiga e parente ganhou uma petit casserole junto ao seu presente de Natal.
Como era de se esperar, a Caras tem um site na internet onde, além de fotos e notícias, há vídeos. Sobre celebridades. E beleza, estilo, decoração, culinária. Dia desses uma chamada na página do provedor me chamou a atenção: “Modelo plus size que já foi anoréxica aparece com corpão em evento de gala”. Modelo plus size que já foi anoréxica! Cliquei. Queria saber mais sobre a história da moça. Da anorexia ao mundo plus size e, provavelmente, pensei eu, fotos do corpão. Cliquei. A matéria era da Caras. E sim, tinha fotos. De uma moça magérrima. Ué, mas e o corpão?
Que corpão, que nada. Corpinho. A notícia dá conta que a moça – Crystal Renn – foi vítima de anorexia aos 27 anos, quando tentava desesperadamente se adequar às exigências do mundo da moda. Depois disso, e porque todos vamos morrer mesmo, ela se curou e engordou 32 quilos e passou a trabalhar como modelo plus size. Finalmente, emagreceu de novo, deixou os coleguinhas preocupados com uma possível recaída na anorexia até que finalmente reapareceu em Nova York com o dito “corpão”.
Eu ia falar sobre a minha confusão com esse negócio de corpão, porque né? Para mim, corpão é corpo grande, corpinho é corpo pequeno, não se fala mais nisso. Olhando as fotos da moça Crystal na matéria, digo que, na minha opinião, ela era linda quando tinha o tal corpão manequim 48 “plus size”: cintura fina, quadris cheios, um violão de encher os olhos mesmo. Digo mais: não era gorda. Era voluptuosa. Gostosa. Se eu tivesse que nascer de novo e me mandassem escolher um corpo no armário, escolhia esse. Mas depois de ter visto uma propaganda da Marie Claire na televisão em que dizem que a Sabrina Sato vai dar dicas de beleza para que eu, você, todo mundo possa ter um “corpão” como o dela, não digo mais nada. Já entendi, “corpão” não quer dizer que é grande, mas sim… esguio, na verdade. Ou seja, um corpinho.
Voltando à tal matéria da Caras, e como uma matéria leva à outra, descobri que aquela atriz super gorda – e linda – chamada Renata Celidônio declarou que já fez todas as gordas que tinha para fazer na TV. Pudera. Ela emagreceu 60 quilos e agora tem um… corpinho? Corpão? Enfim, um corpo que não se presta mais a fazer papel de gordas na TV e nem em lugar nenhum. Se não usar os travesseiros da Vera Holtz como Dona Redonda, só mesmo fazendo papel de magra, porque não tem jeito. E ela disse uma coisa que achei muito interessante, embora triste e reveladora do papel que cabe a pessoas como eu na nossa sociedade: “Para fazer qualquer coisa na TV, só pensam na obesa como uma pessoa engraçada, não para viver um outro personagem que não tenha esse lado cômico”. Verdade, Renata. Walcyr Carrasco e sua Perséfone que o digam. Finalmente, Renata diz que sonha em viver uma empregada na novela do Manoel Carlos. Fez bem em emagrecer, porque do jeito que vai, daqui a nada as gordas não poderão mais ter emprego nenhum, seja como atriz de novela, seja como empregada doméstica.
(nota da Vivi: esse parágrafo contém ironia, atentem). Meu passeio pelo site da Caras incluiu uma galeria de famosos que ganharam BASTANTE peso, tipo 15 ou 20 quilos, uma matéria que me convidou a me inspirar em pessoas como Fabiana Karla e Ke$ha para saber como emagrecer e evitar o efeito sanfona, com dicas de um nutricionista – e que dicas, viu? Evitar massas e doces, fazer exercícios, coisas verdadeiramente inovadoras no mundo das dietas. Mas a excursão finalmente chegou ao fim quando cheguei a uma matéria intitulada “Descubra o peso de Beyoncé, Adele, Angelina Jolie e outras celebridades!”. Foi aí que eu realmente senti medo. Nestes tempos de manifestações, esse patrulhamento do peso alheio me deu ainda mais medo. E quando notei que só a Adele pesava mais do que 60 quilos, achei melhor fechar tudo e voltar a surfar em águas mais seguras. Vai que alguém vê o meu corpão andando por ali desavisado… Nunca se sabe.
Outra Nota da Vivi: e para quem não viu, também foi no site da Caras que a querida Paula Bastos, do Grandes Mulheres, mandou seu recado sobre a abordagem surreal aos ‘problemas criados pela obesidade’, na figura da Enfermeira Perséfone, da novela Amor à Vida. AQUI.