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Coluna da Chris

Coluna da Chris: Eterno Bom Humor (oi?!)

 

Ah, as gordinhas… sempre tão alegres, amigáveis, de bem com a vida. Pessoas de quem se espera um sorriso, um carinho, uma palavra estimulante. Pessoas que são capazes de te achar linda até quando você se sente horrível. Quem come o que quer, é feliz, certo? Deve ser daí que vem tanto ânimo, alegria, tanta boa vontade!!!

Sim, eu concordo que são coisas boas e bonitas para se dizer a respeito de alguém, mas atenção: a respeito de alguém, e não de um grupo imenso de pessoas que tem determinada aparência ou característica física. A partir do momento que aceitarmos que todas as gordinhas são isso ou aquilo, teremos que comprar as idéias equivocadas sobre loiras (e sua inteligência), modelos (anoréxicas!) e gostosudas (fácil, extremamente fácil).

Afinal de contas, por que é que mulheres gordas seriam menos suscetíveis às segundas-feiras, às flutuações hormonais, ao IPVA, a programação da TV, o humor do chefe, enfim, tudo aquilo que irrita os mortais? A possível resposta é de que as gordinhas querem – precisam – agradar.

E daí a gente chega de novo na história da autoestima. Porque só uma pessoa muito insegura sentiria essa necessidade premente de agradar todo mundo a todo momento. Talvez isso até já tenha sido verdade, ou talvez seja uma verdade que atinge as mulheres voluptuosas em determinada altura da vida, antes que elas descubram o verdadeiro poder das curvas saborosamente contidas por um bom par de jeans… mas vamos em frente.

Gordinhas, por vezes, encontram algumas dificuldades que não são comuns a todas as pessoas, porque o mundo é padronizado para pessoas menores e mais estreitas. Poltronas de cinema, catracas de ônibus, alguns banheiros públicos, cadeiras de plástico, meias de nylon, os provadores de algumas lojas, os aviões, os carros super-compactos, os bancos dos bares… Obstáculos diários que muitas vezes colocam pessoas gordas em situações verdadeiramente ridículas e vexatórias. Pensando nisso tudo, é de se imaginar que manter esse bom humor inabalável seja humanamente impossível.

Num exercício criativo, vamos imaginar um dia comum na vida de uma mulher gorda. Depois de preparar o café da manhã, contando todas as calorias que vai consumir, esta mulher vai se enfiar num ônibus lotado, espremendo-se para superar a catraca. Alguns hematomas podem surgir desse esforço. Um office-boy olha com ironia quando ela o aperta para conseguir avançar pelo corredor.

Ela corre para o trabalho, onde passa o dia se equilibrando numa cadeira com braços – braços que apertam seus quadris. Na hora do almoço, mais calorias contadas e uma corrida a uma loja para comprar um bom sutiã. Depois de experimentar duas dúzias de modelos, ela vai comprar um que tem o bojo maior do que deveria, mas que fecha nas costas com a ajuda de um extensor.

Então ela volta para o escritório, telefona para o laboratório para marcar um exame que vem adiando há semanas. A telefonista pergunta docemente qual a altura e o peso. Desanimada, ela mente um pouquinho, como se dez quilos a menos a fizessem parecer realmente menos fora do padrão, ao menos por telefone. Mas o dia calorento chega ao fim, e ela finalmente pode sair para o happy hour com as amigas. Ao chegar no bar, as cadeiras de plástico se enfileiram, ameaçadoras. Aquelas cadeiras quebram, sempre quebram. Se uma pessoa magrinha tiver esse azar, é porque a cadeira não presta. Se, no entanto, a cadeira quebrar embaixo de uma gordinha, então bem… coitada da cadeira.

Neste ponto, eu só posso dizer que se você conhecer alguma mulher que tenha passado por esse dia inteiro, por vários dias como esse, e que não tenha frequentemente momentos de fúria, de mau humor, de cara feia para a vendedora/garçonete/balconista/chefe/passageiros do ônibus, então guarde essa mulher para você. Contrate-a, case com ela ou faça qualquer coisa para mantê-la ao seu lado, não porque ela é uma das tão afamadas gordinhas afáveis, mas porque ela é, na verdade, algum tipo de santa cheia de luz e paciência. E não há muitas santas de carne e osso andando por aí…

Coluna da Chris

Coluna da Chris: Além da Amiga que tem um Rosto Bonito

 

Alguns mitos sobre as pessoas gordas em geral mas que, por algum motivo são ditos mais vezes sobre as mulheres gordas: são sempre alegres e bem humoradas, a melhor amiga que se possa ter; embora sejam gordas, tem rostos bonitos; são as melhores amantes, até porque estão sempre disponíveis; são pessoas doentes, com veias entupidas e esteatose. Acho que cada um deles vale um texto, porque ideias pré-concebidas são sempre nocivas e potencialmente dolorosas para quem se encaixa naquilo que está sendo julgado com tanta severidade.

Vou, então, começar pelo último item da minha listinha: a saúde.

No Brasil, um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, divulgado no final de 2010, indicou que 48% das mulheres tem sobrepeso ou obesidade. A gente sabe que sobrepeso ou obesidade podem estar relacionados a muitos fatores: má alimentação, herança genética, problemas glandulares, sedentarismo, etc.

Embora muitas pessoas usem o argumento da “saúde pública” para justificar discursos verdadeiramente gordofóbicos, a verdade é que a maioria absoluta de quem é seriamente intolerante com a gordura alheia se incomoda mesmo é com a forma e o tamanho. Delicadezas de lado, se tantas pessoas estivessem interessadas na saúde de gente que não conhece, provavelmente a nossa sociedade seria mais justa.

Mas o que é importante dizer, a esta altura, é que entre esses 48% da população feminina que está acima do peso, realmente há pessoas doentes. Da mesma forma, há pessoas doentes entre as mulheres que vestem tamanho 36 (ouvi dizer que 36 é o novo 38, corrijam-me se estiver errada; usar 38 não é ser assim tãooo magra hoje em dia!). E há pessoas saudáveis de todos os pesos,
pessoas que cuidam da saúde e fazem exames com frequência para se certificar de que tudo anda bem.

Em termos de saúde e hábitos, a única coisa que você pode dizer sobre uma pessoa gorda apenas olhando para ela é exatamente isso: que ela é gorda.

A mera visualização não fornece índices de colesterol, pressão arterial ou esteatose (popularmente conhecida como “gordura no fígado”, mal que acomete magros e gordos sem distinção), bem como não indica se ela é sedentária ou se toma todas as noites uma lata de leite condensado antes de dormir. Acreditem. Sou a prova viva disso.

É necessário frisar novamente que eu não acho que as pessoas devam se manter gordas ou magras, mas que acredito fervorosamente que é preciso que a gente seja capaz de amar o próprio corpo. Porque é uma sensação muito boa essa de se olhar no espelho e poder sorrir com satisfação ao se ver no vestido novo, na blusa nova, no jeans justinho, no sutiã de bojo. É uma sensação capaz de fazer o mundo ter novas cores, novos brilhos.

Quando eu era mais jovem, confesso, tinha uma imensa dificuldade em lidar com isso. Porque, ao mesmo tempo em que a imagem no espelho me agradava, parecia muito errado que eu gostasse dela. Era ridículo eu me achar bonita, se “todo mundo” me achava… gorda. Nem feia, nem bonita, gorda. Ou melhor, poderia ser linda, se não fosse gorda. E isso era um tremendo freio. Se todo mundo acha uma coisa e eu acho outra, então eu estou errada, certo? Errado!


sempre linda: girlwithcurves.com

Primeiro porque, obviamente, “todo mundo” está pouco se importando comigo ou com a minha aparência. No meio dos mais de 7 bilhões de habitantes deste planeta, é de duvidar que uma única pessoinha, pequena se comparada à imensidão do mundo (ainda que enorme se comparada com mulheres de 1,50m e 40 quilos) vá ser objeto de tanta desaprovação.

Segundo porque eu tenho todo o direito de ter o corpo que quiser e ao longo da minha vida encontrei muitas pessoas que gostam de mim não “apesar de eu ser gorda”, mas pelo meu conjunto completo: o cérebro, o corpo e estes olhos verdes desconcertantes que a terra há de ter o bom gosto de preservar.

Alimentar traumas, dores, tristezas e esse insano medo do julgamento alheio não é divertido e é provavelmente a “doença” mais séria que acomete gordinhas inseguras ao redor do mundo. Não se dar o direito de se sentir bem com uma roupa nova é triste e muito cruel para que a gente se permita fazer isso. Amo minhas curvas. Elas me formam e me completam. E, é claro, a partir do momento em que a gente ama o próprio corpo, a gente trata bem dele, por dentro e por fora, cuida da saúde e também da aparência.

A armadilha fácil de relacionar excesso de peso com falta de saúde é preconceituosa e, como todo preconceito, deve ser combatido com informação e ações afirmativas. Quanto mais gordinhas desfilarem seus adoráveis corpos roliços nas academias e ciclovias, com seus exames em dia e o colesterol menor que 200, menos pessoas poderão usar essa justificativa ao explicar porque se incomodam de forma tão excessiva com o peso alheio.

Anna Christina

beleza

Fale com Ela: Anna Christina Saeta

 

Anna Chris é uma mulher alta, de olhos verdes.

Fala bem, sabe ouvir com maestria (não apenas com os ouvidos), e escreve que é um espanto. Uma dessas pessoas que praticam a inconveniência de atravessar nossos corações leitores com uma ou duas linhas, sabem como? Essas pessoas que sabem de gente.

A Chris é minha amiga de outro século, mas aposto que ao fim desse texto, você vai sentir que é sua também.

Ah, quase esqueço: Anna Christina também já fez/viveu de regime. Hoje ela é uma mulher alta, de olhos verdes. Alguém com quem conversar sobre autoestima.

Perder peso é fácil, difícil é se manter magro. Parece clichê – é clichê – mas, como quase todos os clichês, também é verdade. No entanto, mesmo gordinhos com larga (é, foi um trocadilho) experiência em perder e ganhar peso acreditam que, uma vez que se perca 10, 20 ou 30 quilos, o problema estará resolvido. A partir daí, basta ficar de olho na balança e, caso ganhe dois ou três quilos num final de semana, passar um dia só na água com alface que tudo se resolve. Pena que o nosso corpinho se recusa a entender esse tipo de raciocínio.

As minhas poucas experiências com remédios para emagrecer foram muitíssimo bem sucedidas, considerando que o remédio deve ajudar a emagrecer. E emagrece mesmo! Não vou entrar em detalhes sobre o que os remédios causam à saúde. Se você for saudável, tem enorme possibilidade de se sair bem. Se não for, nenhum médico que se preze vai te receitar remédios. Então o importante mesmo é sempre procurar médicos que se prezem.

Os períodos pós-remédios – em que estive mais magra, portanto – foram os mais alucinantes da minha vida. Primeiro, porque as pessoas me elogiavam e diziam como eu estava bonita, imaginando que era isso que eu queria ouvir – como se fosse doce a descoberta de que não era considerada assim tãooo bonita antes. Depois porque o meu corpo, esse ente traiçoeiro com ideias próprias, simplesmente ansiava desesperadamente por todo tipo de carboidrato e doce que se possa imaginar. É uma briga que a gente tem pouca chance de ganhar. Eu não ganhei, e confesso que nem lutei muito.

A volta aos tamanhos GG, que pode ser tão traumática para algumas pessoas com grandes expectativas, não me deixou pena maior do que a perda de muitas das roupas que havia comprado. Mas, como não se engorda tudo da noite para o dia, até isso acabou um pouco diluído. Sei que decepcionei algumas pessoas, mas well… nunca pedi aprovação de ninguém.

Eu descobri que recuperar os quilos era uma ótima ocasião para que eu pensasse seriamente em por que os tinha perdido. Vaidade, certamente, mas nunca me vi como uma pessoa movida pela vaidade. Se eu sou capaz de me olhar no espelho gorda e me achar bonita, então porque essa orgia de remédios para perder peso? Concessões, talvez, ao que é estabelecido como “bonito” pela sociedade que me cerca, que estimula padrões que não me seduzem. Acho bonita gente bonita, seja gorda ou magra.

Com tudo isso, não quero dizer que acho que as pessoas devem se manter gordas, longe disso. As pessoas podem ser tudo aquilo que elas quiserem ser, mas para mim, chega de concessões. Vejo sensualidade e doçura nas formas fartas, então porque iria, eu mesma, dizer adeus às minhas próprias formas? Não faz sentido. E foi então que descobri a autoestima, uma coisa que pode te fazer mais feliz que qualquer dieta, qualquer número, qualquer padrão. E é a esta senhora que quero dedicar meus esforços e minhas letrinhas, aqui, uma vez por semana.

Anna Christina

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