Não é de hoje que a marca Dove promove campanhas belíssimas para estimular a autoestima das mulheres do mundo todo. É uma iniciativa tão fundamental e tão necessária que a gente se pergunta porque é que outras marcas, de igual alcance, não pensam em fazer o mesmo. Quando se fala de autoestima, a mensagem não pode ser subliminar: ela tem que ser clara e contundente. Aqui, esse é o seu corpo: você não deve ter vergonha dele.
Outro dia vi um dos vídeos da marca. Não sei se é o último; se não for, é um dos últimos. O nome é “Dove Câmera Tímida”. A pergunta que acompanhava o vídeo que me chegou: “quando foi que você deixou de se achar bonita?”. E isso me provocou um verdadeiro momento de reflexão: quando foi que EU deixei de me sentir bonita? E por quê?
Eu fui uma criança bonita. Na minha época, crianças gordinhas eram consideradas bonitas. Então, eu, com a minha pele muito clarinha, carinha redonda, os olhos verdes e o cabelo de franja, era uma menina bonita. Meus pais me diziam isso. Outras pessoas me diziam isso, ou diziam isso de mim, para minha mãe – que menina bonita!
Eu não duvidava disso nem por um segundo. Não era o tipo de menina super vaidosa, aliás, acho que não era vaidosa em absoluto, e nem extremamente consciente de como me parecia. Mas posso dizer com razoável certeza que durante a minha infância e primeiros anos da adolescência nunca tive qualquer insegurança por conta da minha aparência física. Fui uma menina feliz, muito extrovertida e, confesso, boboca e infantil até onde pude ser.
Já na adolescência, algumas coisas me causavam estranheza, não o suficiente para abalar demais a minha autoestima, mas ainda assim… Meninos não me chamavam para dançar nas festinhas. Eu era maior que eles. Maior de todas as maneiras possíveis. Não era de admirar, portanto. Sobrevivi bem a isso, porque, honestamente, a maioria dos meninos não era tão interessante a ponto de me fazer lamentar. E os que eram, bem… estes eram interessantes para todo mundo. Não ser chamada para dançar por eles não era exclusividade minha.
É claro que durante a minha infância e a adolescência sofri a minha dose de bullying. Mas mesmo isso não foi o bastante para me fazer consciente de que existia um padrão e eu estava fora dele e que as tentativas para me enquadrar seriam difíceis. Eu me aceitava, eu aceitava os outros, todos também com seus pontos fora da linha.
Os primeiros anos da minha juventude foram animados e tiveram todos os dramas de amores previsíveis. E então veio a vida adulta. E essa sim foi cruel. Porque, de alguma maneira, eu passei a atribuir tudo que dava errado na minha vida, todas as expectativas e amores frustrados à minha aparência. E passei também a conviver com pessoas para quem um tipo específico de aparência física era importante.
Não que as pessoas dissessem para mim que eu era indesejável. Elas diziam isso a respeito delas mesmas. E se estar com três, cinco quilos a mais as transformava em gordas horríveis e pouco atraentes, no que os meus muitos quilos a mais ME tornavam? Num monstro, provavelmente. Eu fui me deixando contaminar. Fui aprendendo que era errado ser como eu era. Comprei as inseguranças de todas as mulheres do mundo e passei a acalentá-las.
Em resumo, eu deixei de me achar bonita quando preferi me enxergar da maneira como achava que os outros me enxergavam. É curioso como vejo mulheres olhando suas fotos de 10, 20 anos atrás e dizendo “eu era tão bonita, e me achava tão feia…” ou “era tão magra, e me sentia tão gorda!” ou ainda “daria tudo para ter essa pele/esse cabelo/essa cintura”.
Você algum dia deixou de se achar bonita? Faz tempo? De lá para cá, o que você fez para mudar não a sua aparência, mas a sua maneira de se olhar?
Se eu pudesse dar um conselho para a Chris de 10 anos atrás, não seria para que emagrecesse ou mudasse a sua aparência, e sim para que mudasse a maneira de se olhar no espelho. Diria para ela que isso pode não ser fácil, mas é mil vezes mais simples e menos doloroso do que se odiar. Diria para ela, enfim, que ela deveria ser mais como eu sou hoje, ou melhor: ser mais como eu serei amanhã ou depois de amanhã. Cheia de confiança. Bonita pra caramba, com uns poucos pontos fracos e avassaladores pontos fortes. E feliz.