Correr, disseram-me, é fácil. Comece a andar. E ande mais depressa. Mais depressa, mais depressa, mais! Pronto, você estará correndo. Eu tentei e o resultado foi algo mais parecido com a marcha atlética do que corrida.
A verdade é que eu tenho medo de correr – e não, por favor, não ache isso estranho. Tenho medo do impacto nos meus tornozelos e nos joelhos, tenho medo das minhas carnes todas sofrendo com isso e tenho medo, principalmente, do ardor no pulmão, eu que sou fumante.
Mas, apesar deste medo estranho, eu ultimamente tenho participado de corridas de rua. Uma grande parte das corridas prevê percursos menores, ou até iguais, dependendo da quilometragem da corrida, para caminhantes. De setembro até agora estive em cinco: duas de 3,1K, duas de 5K e uma – gloriosa! – de 7K.
O clima das corridas é muito bacana. As pessoas são, como era de se esperar, bem dispostas. Tem música, tem narrador fazendo graça antes da largada, tem gente para dar aguinha pros atletas no meio do caminho e tem até gente que é contratada para ficar parada em pontos estratégicos te incentivando: vai! falta pouco! não desiste! parabééééénsssssss! E, no final, a gente ganha banana, maçãs minúsculas e uma medalha. Vale a pena!
E o legal é que, no meio dos atletas todos, daquela gente sarada e magra que corre como se tivesse asinhas nos pés, tem uma monte de gente diferente. Tem gente mais velha, tem crianças e tem um número razoável de… pessoas gordas. Já estou pensando em abordar as gordinhas que encontrar correndo por aí (ou andando como eu) para a gente se organizar e formar uma equipe, porque morro de vontade de fazer parte de uma.
Eu já falei, aqui no PopTopic, talvez no primeiro ou segundo texto que escrevi, que preconceito se combate com ações afirmativas. E ver aquelas aquelas alminhas gordas percorrendo passo a passo os 3, 5 ou 7k que as separa da medalha é uma coisa que me enche de orgulho. Porque nem o gordófobo mais renitente do mundo poderia nos ver ali e dizer que somos gordos por preguiça. Ninguém anda ou corre tudo isso pelas maçãs e bananas da chegada! A coisa ali é atividade, meus senhores e minhas senhoras. Preguiça zero! Gente gorda não é preguiçosa! Gente preguiçosa é que é preguiçosa, seja gorda ou magra.
As corridas de rua, hoje em dia, são o segundo esporte mais praticado no Brasil, perdendo apenas para o futebol. É um esporte que não exige talentos especiais: basta colocar um pé na frente do outro, no seu ritmo, e seguir de uma ponta a outra. E os benefícios são imensos! Aumenta o condicionamento físico, melhora o sistema cardiovascular e ajuda muito, mas muito mesmo, a manter a autoestima lá em cima (sempre é bom lembrar que, antes de iniciar qualquer atividade física, a gente deve consultar um médico e fazer um check up básico).
E tem corrida quase toda hora, em quase todo lugar, às vezes duas ou três na mesma semana. Corridas temáticas em que as pessoas usam adereços de acordo com o tema, corridas sérias que contam pontos nos rankings das associações, corridas noturnas ou diurnas, na praia, na montanha, enfim, tem corrida mesmo para todos os gostos.
Fica, então, a dica para quem não gosta de academia ou tem medo de piscina: vem pra rua você também! E não se segura! Na hora de cruzar a linha de chegada, mesmo que você tenha andado o caminho inteiro, acelera e dá uma corridinha rápida, sorrindo bastante. Fica bonito na foto.