Anna Chris é uma mulher alta, de olhos verdes.
Fala bem, sabe ouvir com maestria (não apenas com os ouvidos), e escreve que é um espanto. Uma dessas pessoas que praticam a inconveniência de atravessar nossos corações leitores com uma ou duas linhas, sabem como? Essas pessoas que sabem de gente.
A Chris é minha amiga de outro século, mas aposto que ao fim desse texto, você vai sentir que é sua também.
Ah, quase esqueço: Anna Christina também já fez/viveu de regime. Hoje ela é uma mulher alta, de olhos verdes. Alguém com quem conversar sobre autoestima.
Perder peso é fácil, difícil é se manter magro. Parece clichê – é clichê – mas, como quase todos os clichês, também é verdade. No entanto, mesmo gordinhos com larga (é, foi um trocadilho) experiência em perder e ganhar peso acreditam que, uma vez que se perca 10, 20 ou 30 quilos, o problema estará resolvido. A partir daí, basta ficar de olho na balança e, caso ganhe dois ou três quilos num final de semana, passar um dia só na água com alface que tudo se resolve. Pena que o nosso corpinho se recusa a entender esse tipo de raciocínio.
As minhas poucas experiências com remédios para emagrecer foram muitíssimo bem sucedidas, considerando que o remédio deve ajudar a emagrecer. E emagrece mesmo! Não vou entrar em detalhes sobre o que os remédios causam à saúde. Se você for saudável, tem enorme possibilidade de se sair bem. Se não for, nenhum médico que se preze vai te receitar remédios. Então o importante mesmo é sempre procurar médicos que se prezem.
Os períodos pós-remédios – em que estive mais magra, portanto – foram os mais alucinantes da minha vida. Primeiro, porque as pessoas me elogiavam e diziam como eu estava bonita, imaginando que era isso que eu queria ouvir – como se fosse doce a descoberta de que não era considerada assim tãooo bonita antes. Depois porque o meu corpo, esse ente traiçoeiro com ideias próprias, simplesmente ansiava desesperadamente por todo tipo de carboidrato e doce que se possa imaginar. É uma briga que a gente tem pouca chance de ganhar. Eu não ganhei, e confesso que nem lutei muito.
A volta aos tamanhos GG, que pode ser tão traumática para algumas pessoas com grandes expectativas, não me deixou pena maior do que a perda de muitas das roupas que havia comprado. Mas, como não se engorda tudo da noite para o dia, até isso acabou um pouco diluído. Sei que decepcionei algumas pessoas, mas well… nunca pedi aprovação de ninguém.
Eu descobri que recuperar os quilos era uma ótima ocasião para que eu pensasse seriamente em por que os tinha perdido. Vaidade, certamente, mas nunca me vi como uma pessoa movida pela vaidade. Se eu sou capaz de me olhar no espelho gorda e me achar bonita, então porque essa orgia de remédios para perder peso? Concessões, talvez, ao que é estabelecido como “bonito” pela sociedade que me cerca, que estimula padrões que não me seduzem. Acho bonita gente bonita, seja gorda ou magra.
Com tudo isso, não quero dizer que acho que as pessoas devem se manter gordas, longe disso. As pessoas podem ser tudo aquilo que elas quiserem ser, mas para mim, chega de concessões. Vejo sensualidade e doçura nas formas fartas, então porque iria, eu mesma, dizer adeus às minhas próprias formas? Não faz sentido. E foi então que descobri a autoestima, uma coisa que pode te fazer mais feliz que qualquer dieta, qualquer número, qualquer padrão. E é a esta senhora que quero dedicar meus esforços e minhas letrinhas, aqui, uma vez por semana.
Anna Christina