Observação para antes que os sinos dobrem: aqui no Pop Topic a gente acredita em (re)Educação Alimentar com direito à liberdades poéticas gastronômicas, que não merecem ser chamadas de pé na jaca. A gente come para viver, mas vive comendo (e bebendo socialmente, oras) também.
Dia destes me peguei numa discussão renhida com um nutricionista esportivo – é assim que ele se apresenta – na internet. O tipo é todo trincado, super musculoso e a nossa contenda começou após ele responder a um comentário meu numa notícia qualquer com a frase “gordo não precisa de desculpa, gordo precisa é de dieta”.
Eu não sou especialista em nada: nutrição, dieta, saúde. Sou especialista em ser eu mesma, unicamente, matéria que eu admito ser por vezes entediante, por outras absolutamente irritante e quase nunca digna de atenção. E é baseando-me nesta minha especialidade que digo que o nutricionista soou extremamente preconceituoso. Gordo precisa de dieta por que? E magros, não precisam de dieta? A generalização me incomoda.
Eu não gosto da palavra ‘dieta’. Dieta significa privação. Fazer uma dieta de X pode significar duas coisas: comer apenas X ou nunca se permitir comer X. Honestamente, essa minha alminha transtornada chega a ver isso como um pecado, ter saúde e não comer X apenas por causa de uma… dieta. Não prescrita por um médico, por alguma razão concreta.
Porque dieta, para mim, é isso. Se a pessoa está com colesterol alto, deve fazer uma dieta com baixo consumo daquilo que faz o colesterol aumentar. Super válido. Necessário. Digno. Cada condição de saúde prevê uma dieta específica. E estas dietas devem ser levadas à sério. São muito mais que uma questão de caber num vestido menor.
Fora esse motivo válido, por que é que as pessoas fariam dietas? Dietas são limitantes, incômodas, muito difíceis de seguir por longo período de tempo e normalmente acabam numa explosão de consumo de calorias absurdamente maior do que aquelas que se consumia antes da dita dieta. Muitas delas prejudicam a saúde e privilegiam apenas a perda de peso.
Dieta da sopa, dieta dos pontos, dieta do espartilho – acreditam? A mesma teoria daquela correntinha sobre a qual uma vez falei. Dieta de Beverly Hills, dieta da USP (não sei de onde veio essa), dieta das proteínas… é uma oferta tão grande, e as pessoas embarcam nelas com tão pouca informação que chega a ser até irônico chamar de “dieta”. Mais correto seria tratar como truque, artifício, engodo. Para enganar o seu corpo.
Eu vejo as pessoas fazendo dietas por vários motivos, quase sempre ligados exclusivamente à aparência física. Mulheres adoram fazer dieta para perder alguns quilos. Pessoal de academia adora fazer dieta cheia de batata doce para ganhar mais músculos. E sim, elas funcionam pontualmente, até a página 6. Quem perde muito peso em dieta normalmente perde muita água e massa muscular. Voltar a acumular gordura é apenas uma reação natural depois disso.
Já o conceito de reeducação alimentar me parece não apenas mais sóbrio como também mais realista. Comer de tudo, de forma saudável, por toda a sua vida. Sem sacrifícios extremos. Sem deixar o seu cérebro desprovido dos tão necessários carboidratos, os seus músculos (inclusive o coração) carente de proteínas ou até o seu prazer tristemente privado de açúcar – porque sim, permitir-se o prazer de comer um doce também faz parte do seu bem estar.
A minha conversa com o tal nutricionista acabou no momento em que ele me disse que ser gordo e não se preocupar com a estética (ou o conceito do que é esteticamente aceitável para ele e para a maioria das pessoas) é uma “agressão à sociedade”. Há argumento possível contra esse tipo de afirmação?
Sociedade, desculpa aí se eu sou gorda demais para os seus padrões e você se sente agredida com isso. Em minha defesa, posso apenas dizer que também já fui agredida por você, muitas vezes, quase sempre apenas por me dar o direito de ser quem sou. Mas sem ressentimentos. A amizade continua a mesma.
Olha, eu nem tenho problemas com o peso, mas to sempre querendo perder um quilinho….
Mas me deu uma vontade de te dar um ABRAÇO!
Parabéns! Tá faltando gente como você no mundo, que vive mais e julga menos 🙂
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Um sim ao “direito à liberdades poéticas gastronômicas” , adorei e já troquei o meu “pisei na jaca” e o “projeto que se foda” por essa linda e delicada frase. Direito a liberdade poética gastronômica, porque comer é poesia!! E quanto ao tal nutricionista que tentou te ofender em vão, porque você é um ser bem superior só te digo: tem coisas que só Freud explica né hahahahahaha!!!! Beijos sua linda!!!
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Nada mais, nada menos. <3
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Sempre passo por aqui pra ler sua coluna. Adoro! Bjos
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