Respostas. Estas são a melhor parte de qualquer diálogo.
Uma pergunta sozinha não é nada. Uma pergunta respondida começa uma história – ou um texto. No nosso caso, uma nova coluna. Na última coluna, perguntei: quando foi que você deixou de se achar bonita? Como sempre, voltei todos os dias para ler as respostas, e quero aproveitar para agradecer a todas as respostas que vocês me deram em todas as colunas. As respostas, os comentários, as concordâncias e discordâncias, as histórias, elas validam a minha existência aqui no Pop Topic. As suas respostas aquecem o meu coração, emocionam e me fazem ter essa vontade louca de escrever mais e mais. Muito obrigada!
Uma das respostas àquele texto, escrita pela Marcela, conta uma história que, infelizmente, não é tão rara assim. Por coincidência, até fizeram algo bem parecido no Fantástico do último domingo: uma mãe que dizia à filha, em público, que ela era muito gorda e tinha que parar de comer. Não vou falar do quadro, porque eu o achei doloroso. O tom usado pela atriz foi cruel e, repito, justamente por ser algo que a gente sabe que acontece mesmo, machuca. Para mim, o importante ali não era ver se alguém defenderia a menina. Essas coisas acontecem, na maior parte das vezes, quando ninguém pode defender a menina. E atenção, isso não é defesa do direito ao fast food, mas sim a defesa de que as mães escolham a comida dos filhos pelos motivos certos – a saúde – e não pelos errados – a aparência e a “vergonha” que a aparência causa.
Enfim, o que a Marcela disse no fim do comentário dela foi o que me comoveu: “quando eu tiver minha filha, vou me esforçar para ela se sentir linda”. Porque isso, sabe, isso é a evolução da positividade. É quebrar com essa longa tradição de mulheres se maltratando e maltratando outras mulheres, inclusive as próprias filhas, em nome de um padrão de beleza que ninguém perguntou se a gente queria ou não.
E tudo isso me fez lembrar também de uma carta que eu li outro dia, de uma escritora chamada Kasey Edwards. Ela escreve à própria mãe, contando que se lembra que tinha 7 anos quando descobriu que a mamãe, que ela achava tão linda, era “gorda, feia e horrível”. E ela descobriu isso não olhando para a figura da mãe, mas sim porque a própria mãe contou a ela. E que menininha de 7 anos vai duvidar das palavras da própria mãe? A carta é muito bonita e pode ser lida no final do post.
O fato é que a infelicidade em relação ao próprio corpo é altamente contagiosa. Não basta elogiar as outras mulheres, dizer o quanto são lindas, apontar seus aspectos mais favoráveis: a gente tem também que abandonar o triste hábito de se depreciar. Cada vez que uma mulher diz, de forma humilíssima, que ela é feia porque está gorda, que seu cabelo é horrível, que se sente mal por ter a bunda grande, que gastaria um prêmio de loteria inteiro para fazer trocentas cirurgias plásticas e finalmente ficar bonita, esta queixosa senhora derruba cinco mulheres à sua esquerda e mais meia dúzia à sua direita.
É contagioso. Eu não tenho a menor dúvida disso, porque, como eu disse na última coluna, este foi o meu ponto de “parar de me achar bonita”. Estou sendo repetitiva, eu sei, mas vamos lá que o assunto é importante. É uma questão de responsabilidade. Espalhar ondas de insatisfação por aí não é algo que alguém faça por prazer. É involuntário e só existirá uma chance de romper esse ciclo de tristeza no dia em que todo mundo perceber o quanto colabora com a existência dele.
Passar a respeitar o seu corpo e a gostar dele, portanto, é mais do que encontrar a sua própria felicidade e satisfação. É agir também em benefício das outras pessoas, aquelas que ouvem o que você diz e que muitas vezes internalizam as mesmas dores. E passam a sofrer da mesma forma. Por contágio, por comparação, por admiração. E então?
Você pode ler a carta de Kasey Edwards aqui.
Impecável, como sempre!
Com textos inteligentes e claros como esse, um dia as pessoas vão começar a entender que para ser feliz e para se gostar não precisam mudar os números da balança. A felicidade esta em cultivar os bons sentimentos, as boas amizades, os pequenos prazeres do dia a dia sem grandes explosões de fogos ou de estrelas. O bom esta no simples e esta no nosso interior prontinho para explodir no brilho dos olhos, no sorriso que ilumina, na luz que o espirito irradia, se assim o permitirmos. Você é demais, sobrinha ruiva de olhos verdes e maior orgulho da tia.
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Chris, pq será que é tão difícil colocar em prática? Vou lendo seu texto e me enchendo de um sentimento bom, de uma auto-estima nas alturas, de uma vontade de ser gentil com todas as mulheres em minha volta, de dar um beijinho no ombro (sabe como? rss) e dizer que ‘to gata’. Mas e depois? Pq nos deixamos diminuir diante deste padrão de beleza que como você disse ‘ninguém perguntou se a gente queria ou não’? Grande beijo.
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Olha, eu estou lendo isso pensando se vou na ginástica hoje…. eu sei que pode parecer absurdo o que vou relatar,mas as mulheres sem perceber se tornaram algozes delas mesmas….Eu sou a única magra numa classe de mulheres normais: acima do peso,tiveram filhos,etc, etc. SÓ QUE elas simplesmente tiram sarro de mim o tempo todo pq eu me dedico na aula,faço meu exercício e fico na minha.E o tempo todo tenho que escutar ” ah,vc pode comer né? é magrinha’.” ah fulana consegue fazer o exercício” Gente????? Que mundo é esse? O problema não sou eu! O problema é elas que não se aceitam pq engoliram todos os “padrões” impostos pela mídia…Aí eu fico numa situação de constrangimento,parece que eu tenho que pedir desculpa por ser magra.Não sei se vão entender meu comentário…mas isso é um fato real.
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@FAbI: eu acho que é treino. Não é que nem respirar, é que nem fazer agachamento na academia, sabe? A gente não pode se distrair, senão faz errado, hahaha. Tem que lembrar, dia a dia, toda hora, escrever sobre, falar sobre, para não esquecer. Acho que depois de um tempo passa a ser natural – ou não. mas vou morrer tentando, todos os dias 🙂 Beijo
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É, Anna Christina, vivemos num mundo em que só as coisas ruins dão mais IBOPE do que as boas. E, principalmente, a maioria das pessoas, vive em função de padrões alheios, nem sempre compatível com que desejam realmente. A DITADURA da beleza. Vai entender? Ah, com relação ao quadro do Fantástico, assisti. Particularmente não achei lá tão legal. Algo me diz que se não fosse a agressividade da mãe, a maioria das pessoas iria concordar que a menina poderia ser mais magra… Ou estou errada?
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Está certíssima. Comentei ainda hoje com a Vivi que as pessoas ao mesmo tempo discordavam e concordavam com a mãe. Concordavam com a opressão da aparência, discordavam apenas da gritaria.
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Pra mim o mais difícil é contagiar as pessoas com os meus pensamentos bons sobre isso… Estou ainda um pouco pesada para meus joelhos, mas eu sou o que sou e me divirto assim. Fui numa festa sábado à noite, numa linda roupa do meu tamanho – a qual não sofri pra comprar porque fui numa loja com tamanhos grandes e lindos – e dancei muito. Eu estava linda. Feliz. E fiquei mais feliz ainda porque aguentei a festa (o que não faz a natação pra gente…) Estou emagrecendo, mas porque desejo continuar dançando, andando, indo ao cinema, viajando, etc… E se meu corpo não aguentar comigo, ficarei triste… Mas NUNCA me ouvirão dizer que sou feio porque estou gorda… Pena que muitas das minhas amigas dizem isso delas mesmas e das pessoas ao redor… Mesmo não dizendo direto pra mim, não sabem que me machucam igual, pois não são felizes de verdade…
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A minha “querida mãe” foi a primeira pessoa a me dizer que eu era feia, desde então tudo que tenho feito é me depreciar.
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Vamos nos amar mais, é só o que importa, pq assim amaremos com mais intensidade e compreenderemos à quem não se ama.Obrigada Cris pela ajuda.Bjs.
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Que lindo texto, Chris!
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Olá! Volto aqui novamente para comentar: adorei o seu texto. Porque é bastante real: nós temos que parar de “elogiar” as outras (e uso as aspas porque muitas vezes a gente elogia se mordendo de inveja), mas esquecemos de elogiar nós mesmas. Depois do texto da semana passada, parei para pensar um pouco mais em mim e no que fazer para me sentir melhor comigo mesma. E resolvi colocar em prática. Obrigada por escrever textos tão bons!
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Chris,
falando em resposta, dá uma olhada nesse vídeo. É a resposta de uma âncora de TV a um e-mail de um bully. “Eu sou mais do que um número na balança”: http://www.youtube.com/watch?v=HqXrY3UHpM4
Um beijo, Ock.
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Na verdade eu sou bem exigente comigo mesma. A gordura que consigo “perdoar” nos outros, eu não consigo tolerar em mim mesma. Sinto-me horrível… Queria vestir qualquer coisa e achar que to ótima, mas é duro quando me arrumo e desisto de sair porque me sinto fora de forma. E não sou gorda, mas quando as coisas já não estão mais no “lugar certo”, isso me pira. Não sou autoindulgente, não deixo passar… fico sofrendo, me privo, armo estratégias, quero vencer a genética, a idade, as circunstâncias.
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Vivi Reply:
setembro 5th, 2013 at 18:24
Sou exatamente como você, Badá. Não importa se são 500grs, 5 ou 50kg. A cobrança é MINHA e é a mesma.
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