Coluna da Chris

Coluna da Chris: Solteirice

 

E depois do dia dos namorados, e de dicas sobre como arrumar namorados e simpatias para o Santo Antonio para arrumar namorado, nada melhor do que falar sobre a solteirice, essa situação que, apesar de atingir declarados 48% da população brasileira (dados do IBGE – 2011), continua sendo vista por tanta gente como uma situação desfavorável, negativa mesmo.

E, é claro, na nossa sociedade ainda tão machista, essa questão atinge de forma muito mais violenta as mulheres do que os homens. Um homem solteiro aos 40 anos é visto com um tipo ainda em tempo, provavelmente um conquistador, cheio de mulheres à disposição. No dia em que quiser, ele se casa. Opções não faltam, e ele está em plena idade fértil. Um homem de quarenta anos é um bom partido.

Já uma solteira de 40 anos, para ser assim tão bem vista, tem que ser muito, mas muito bem sucedida. Uma mulher com uma carreira sólida, que ganhe muito dinheiro: isso explicaria porque ela não teve tempo para se dedicar a um relacionamento, o que não é desabonador. Ela que não se descuide, mesmo assim. Ser rica e bem sucedida funciona até certo ponto, mas se ela não se mexer logo, acaba ficando para tia. E quem é que deseja um destino desses?

A coisa da solteirice para a mulher é tão avassaladora que até o pronome de tratamento utilizado é diferente para mulheres solteiras ou para aquelas que já se casaram. Conforme relembrado esta semana pela psicanalista Regina Navarro Lins na sua fanpage, “as designações para a mulher demonstram seu status – senhorita (que não tem homem) ou senhora (que tem ou já teve, mas ele partiu ou morreu)”.

Seria bom imaginar que, nos dias que seguem, as pessoas tivessem se desvencilhado deste tipo de rotulação que poucas vezes é verdadeira. A maior parte das solteiras que eu conheço já teve homens, muitos até. Apenas não se casaram com eles. O que, aliás, ainda não é visto por muita gente como um comportamento elogiável.

Não faz muito tempo, passei por uma situação que foi ao mesmo tempo irritante, cômica e muito ilustrativa. Eu fui encontrada no Facebook por uma mulher que foi minha amiga de infância. Morávamos em ruas próximas, brincávamos juntas. Um dia ela se mudou e nunca mais nos vimos. Pelo menos uns 30 anos de ausência. Então ela me buscou, achou e estava muito curiosa para saber tudo a meu respeito.

Tranquilamente contei, numa conversa virtual, que estava tudo muito bem, que moro com os meus pais porque gosto muito de estar com eles. Que a minha vida é boa, que sim, meus irmãos se casaram e tem filhos, e sim, fiz uma faculdade, e trabalho, e sinto-me bastante feliz, uma vida da qual não posso reclamar.

Foi quando ela, com muito cuidado, disse que precisava me fazer uma pergunta bastante pessoal. Esperei, já imaginando o que viria por aí. Ela disse que eu, quando menina, era bonita, muito inteligente e “popular”. Que ela se lembrava de eu ser muito extrovertida e sociável. Como, portanto, eu tinha ficado solteira? Por que nunca havia me casado? Eu já havia me relacionado com pessoas? E, finalmente – “pessoas de que sexo?”.

Respondi, como poderia ter não respondido. Realmente não me preocupei minimamente em desfazer enganos. É que já nem me espanto por notar que, em pleno século XXI, uma pessoa da minha idade pense que a explicação para a solteirice de uma mulher de quarenta e poucos anos tenha que ser essa, o que mais provavelmente seja essa. Como se ser solteira fosse uma maldição reservada às mulheres que não gostam de homens.

Eu nunca fui casada, logo não posso fazer grandes comparações entre uma situação e outra. Posso, apenas falar sobre como é estar solteira aos quarenta (e pouquíssimos) anos. É bom, é muito bom. Se você tiver pais maravilhosos, que valorizem a sua presença e que sejam seus companheiros na vida. Se tiver amigos e amigas com quem contar. Se tiver bons homens (ou boas mulheres, se for o caso) com quem partilhar bons momentos antes de voltar para sua casinha quente. Se tiver um trabalho, ou uma ocupação, que te faça sair de casa com prazer para viver mais um dia. E se tiver sobrinhos maravilhosos. Porque, se tem uma coisa que definitivamente é deliciosa na solteirice, é esta: virar titia. Com direito a muitos mimos e beijos com gosto de doce.

5 comentários

  1. Adriana Bastos disse:

    Sabia que adoro o que você escreve? Adoro pessoas inteligentes. Olha que não é nenhuma cantada. hahahaha

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    Anna Christina Saeta Reply:

    hahahahahah! <3

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  2. HelÔ Bello Barros disse:

    Muito bom poderosa Anna Christina Saeta . Bela crônica. E olha que ser solteira numa boa é 500 vezes melhor que ser uma casada recalcada. Veja se existe alguma estatística pra casadas vivendo à beira de um ataque ou em tédio absoluto.

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    Anna Christina Saeta Reply:

    Helô, segundo o Dr Flavio Gikovate, apenas 5% das pessoas são felizes no casamento! Parece muito pessimista, não???

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    HelÔ Bello Barros Reply:

    certíssimo este Dr Flávio!!!

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