Pouca coisa pode ser tão cansativa, irritante e improdutiva quanto ler comentários deixados por leitores em sites de notícias da internet. Há todo tipo de gente comentando ali, gente que vem de lugares diferentes, alguns estudados, outros nem tanto, alguns obviamente sérios e comprometidos com o que dizem, e outros que parecem apenas se divertir em chocar, provocar, instigar. Em comum, todos tem a maior conquista que a internet proporciona a seus usuários: o anonimato.
Antigamente, quando a gente lia jornal de papel, a gente podia mandar cartas comentando matérias, opinando sobre assuntos. Mas as cartas tinham que ser enviadas por correio e conter, obrigatoriamente, nome completo, endereço, telefone, número da identidade. Umas poucas eram escolhidas e publicadas, normalmente as bem escritas, com argumentos válidos, estruturados, coerentes, fossem para o bem ou para o mal. As pessoas de fato tinham responsabilidade sobre o que diziam, porque seus nomes inteiros apareceriam ali. Era difícil fazer graça com um assunto sério, era difícil ser publicado se o conteúdo do texto fosse leviano, preconceituoso, tolo.
E é nesta lama que de vez em quando eu mergulho. Não é por masoquismo, não é por diversão, mas sim porque, às vezes, tenho um daqueles ataques de devolver uma concha ao mar. Não vou conseguir salvar todas, mas fazer a minha parte (mentira: vou apenas me desgastar. Minhas opiniões são muitas vezes ridicularizadas por gente que sequer é capaz de escrever direito). Talvez eu queira entender. Não sei bem. É sempre uma desilusão, mas ainda continuo lendo comentários.
Enfim. Semana passada, uma mulher de 48 anos morreu após se submeter a seis cirurgias plásticas simultâneas em uma clínica na capital paulista. Ela implantou silicone nos seios, retirou bolsas de pele das pálpebras e lipoaspirou barriga, braços, pernas e costas. Pagou R$ 20.000,00, em 10 parcelas por tudo isso. Morreu alguns dias depois, por conta de uma hemorragia. Segundo uma amiga, ela se sentia descontente com seu corpo por estar acima do peso.
Que tipo de pessoa, ao ler uma matéria como essa, tem o ímpeto irreprimível de criticar a conduta da falecida? Depende. Se garantido o anonimato, eu diria que 90% das pessoas. Como nome real impresso, eu já não saberia dizer. O fato é que nesta matéria, como em várias, váááárias semelhantes, as pessoas são inclementes com quem morreu e obviamente não está mais aqui para defender, explicar, justificar a sua decisão de se submeter a tantas cirurgias.
A impressão que se tem, ao ler tudo que é comentado, é que o raciocínio é mais ou menos o seguinte: sim, ela tinha toda razão para não gostar de ser gorda, porque ninguém pode gostar de ser gorda. E, claro, ela tinha que tomar uma providência. Se essa providência, no entanto, for a cirurgia, isso deixa claro que ela era preguiçosa. Se ela não fosse preguiçosa, iria fazer exercícios. E outra, quem quer ser magro não tem que operar, tem é que fechar a boca. Porque as pessoas gordas comem demais. E não se exercitam. Glutonas. Preguiçosas.
Quer dizer, o anonimato permite que alguns não apenas condenem a aparência alheia, como também a maneira que as pessoas encontram para mudar a aparência. Na minha cabeça, tudo se mistura. Eu sei que podem nem ser as mesmas pessoas, mas a gente lê num lado alguém falando mal da atriz X que apareceu gorda na novela, como se ela não tivesse direito de engordar. Dois cliques adiante, lê na notícia da morte desta mulher um comentário estúpido como “morreu pela vaidade, tenho pena”. Afinal de contas, comentaristas da internet são também uma amostra da sociedade. A mesma sociedade que não quer te ver gorda exige que você seja magra através do sacrifício – privações, exercícios intensos – e nunca por caminhos “fáceis” como remédios ou cirurgias. Qualé???
Nunca saberemos mas talvez, apenas talvez, se essa mulher de 48 anos tivesse ouvido de todo mundo que a cercava, a mídia inclusive, que ela era linda exatamente do jeito que era, ela hoje estivesse por aqui. Funciona com algumas, não tão bem com outras. Meu sonho é ver nascer o dia em que toda mulher vai se sentir muito bem com seu corpo. E não vou perder a oportunidade de dizer, mais uma vez, que você é linda exatamente do jeito que você é. Eu tenho a mais plena certeza disso.
Realmente tem isso na internet. E muitas vezes as pessoas criticam sem nem parar para ler direito a história. Eu já sou de dizer na cara o que penso tanto na internet como fora dela. Na faculdade era uma das poucas, senão a única, que ousava questionar e criticar. Meu namorado está acima do peso e não se sente bem com isso, mas falo para ele fazer dieta e exercícios. Tem que moderar o que come. Mas tem gente que quer tudo rápido e aí pode acontecer algo ruim. Eu tenho medo de cirurgia. Pela minha experiência eu penso que pessoas acima do peso tem a tendência a serem preguiçosas, mas não é apenas os gordos que são assim. Eu sempre fui magra, comia o que queria e vivia tomando remédio para engordar. Também era/sou preguiçosa para exercícios.
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