Semana passada eu falei sobre roupas, e sobre roupas continuo a falar esta semana. É que eu me lembrei da dificuldade que era conseguir umas roupas legais quando eu era, sei lá, vinte, vinte e cinco anos mais jovem – e uns tantos quilos mais magra (ou menos gorda). Conseguir uma boa roupa era mais que uma peregrinação ou uma aventura. Era uma conquista.
Estar disposta a gastar dinheiro numa roupa e não encontrar absolutamente nenhuma que sirva causa uma fúria, uma frustração, que poucos imaginam. Não falo aqui de roupas que não caem bem, formam uma prega, ficam esquisitas, justas ou curtas demais. Falo mesmo de entrar num provador e tentar se enfiar numa calça que não passa das coxas, embora seja a maior numeração disponível. Ou uma blusa que, caso você consiga vestir, não consegue tirar sozinha, porque os braços simplesmente não levantam. E isso em todas as lojas onde se tentasse fazer compras. Era uma sensação de absoluta inadequação, de não ser aceita.
O jeito era usar jeans, não tão difíceis de achar, e camisetas, estas bastante fáceis. Mas à medida que as mocinhas iam crescendo, tinham vontade de usar uma sainha, um vestido, pelo menos uma peça que não fosse feita de rústico brim azul (lycra não era algo que se encontrasse tanto assim) ou malha 100% algodão. E aí? Bom, aí que só quem viveu essa época difícil sabe que os dias de hoje, mesmo com todos os preconceitos que as pessoas fora do padrão enfrentam, são dias de luxo, glamour, vitória.
A primeira vez em que fui a uma loja especializada em plus size foi marcante. A loja ficava do outro lado da cidade. No caminho, ia imaginando a decepção que seria chegar lá para encontrar aqueles vestidos feitos para vovós da década de 50: retos, com estampas sem graça, sem nenhum charme ou sensualidade. Fui armada do mau humor típico das gordinhas que iam às compras naqueles tempos difíceis. Preparada para o pior.
A realidade, felizmente, foi bem diferente. Era um mundo mágico, em que vendedoras abriam sobre os balcões saias curtas com meio metro de largura. Blusas de cores bonitas. Calças de vários modelos! Maiôs, biquínis, vestidos. Lingerie que não apertava, meias que serviam, todo um mundo de cores, texturas, modelagens. E a cereja no topo do sundae, a loja nem se chamava “A Balofinha Bonita” ou “Moda Extra-Extra-Large”! Sim, porque nunca vi uma loja chamada “A Magricela Feliz”. Já as de roupas grandes, ah, estas adoravam usar nomes provocantes.
O único problema era que a loja era pequena, muito pequena. Equipada com dois ou três provadores tamanho super-minúsculos. Gordinhas suadas se atingindo com os cotovelos enquanto tentavam se manter dentro das cortininhas. Pelo menos as roupas serviam, e era um verdadeiro desfile de moças e mulheres que se vestiam lá dentro e saíam para pedir a opinião das mães, irmãs ou maridos que esperavam lá fora.
Isso tudo foi só o começo. De lá para cá, esta mesma loja abriu dezenas de filiais, e as lojas são maravilhosas. Provadores grandes, espelhos grandes e, acreditem, até os assentos dos vasos sanitários são maiores, mais redondos, confortáveis. Além desta loja, há outras marcas que vendem exclusivamente roupas grandes. Lá, cada gordinha é uma rainha em potencial. Amigas magrinhas às vezes se ressentem: mas eu gosto do tipo de roupa que fazem lá, por que não fazem tamanhos pequenos? Não deixa de ser uma pequena vingança…
A vida anda mais fácil, ao menos neste aspecto. Nas grandes cidades, as mulheres plus size encontram lojas de todos os tipos, que vendem roupas para todos os gostos e todos os bolsos. Alguns grandes magazines e lojas de departamento também oferecem pequenas, mas bastante simbólicas, coleções de roupas grandes.
Mas nada me diverte e me alegra mais do que, passeando por uma rua qualquer, ver uma manequim gorda enfeitando uma vitrine em meio às outras bonecas longilíneas. É como se fosse um código, chamando todas as mulheres para entrar sem medo, porque nenhuma vendedora vai levantar as sobrancelhas e dizer, com algum deboche, “não temos o seu tamanho”. Na verdade, elas vão se esforçar para encontrar algo do seu tamanho, mesmo que você seja gorda demais. Porque, nestas lojas, é uma questão de honra ter uma roupa para cada pessoa que entrar ali. Honra e comissão. Mas é delicioso, seja como for.
E há os desfiles! Mulheres gordas vestindo roupas lindas e mostrando as tendências… parece pouco? Imagine o que é passar a vida lendo revistas, vendo televisão, recebendo notícias apenas sobre roupas que não são feitas para você e que fazem questão de te excluir. Vivendo numa sociedade que valoriza tanto o que se veste, parece que você sequer existe. Eu nunca fui a um evento de moda plus size, mas o simples fato de saber que eles acontecem aquece meu coração. Alguém faz isso para mim, para pessoas como eu. É a validação da categoria!
Poder cultivar as pequenas vaidades femininas é importante, e tenho a certeza de que também foi um fator preponderante para que as mulheres gordas passassem a se valorizar mais. Nunca mais ter que ir a meia dúzia de casamentos num só ano vestindo o mesmo vestido preto de sempre. Tem coisa melhor?
Adorei.
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Não, não tem!!!
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http://monalisabeauty.blogspot.com.br/2012/08/concurso-quer-trabalha-comigo-no-blog.html
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A-M-E-I o post! Falou tudo que sinto em relação a essas novas ‘oportunidades’ que surgiram para nós nos últimos tempos!
Me identifiquei demais!
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Concordo com tudo que vc disse realmente os eventos de Plus Size eu não fui mas me enriquece saber que a indústria da moda está valorizando esse lado.
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Daniele, é uma vida nova, né? E a evolução é rápida, cada vez mais coisas bonitas para um público bonito como a gente 🙂
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