Então, semana passada eu falei sobre variar os temas e daí me aconteceu algo que eu acho que até dá para a gente ver como uma espécie de desafio à autoestima. Como mulher, como pessoa, como profissional.
Eu trabalho num escritório que fica num prédio de 12 andares. São pequenos conjuntos, quatro por andar, e nós estamos justamente no último. Fomos os primeiros a chegar aqui,há 20 anos. O plural quer dizer meu chefe, o legítimo dono e senhor, e eu, a secretária.
Então o nosso ar condicionado quebrou há coisa de um mês. É um daqueles aparelhos enormes, que tem duas unidades, uma na escadaria de serviço, outra no forro do conjunto. Quer dizer, não é tarefa fácil trocar uma geringonça dessas, e inevitavelmente haverá algum barulho, alguma sujeira, alguma bagunça.
Foram precisos cinco dias para concluir o serviço, e mais algumas noites. Isso porque em prédio comercial só se pode fazer reformas depois das 19:00h e aos sábados. Durante todo esse trabalho, eu só estava presente no último dia. Fiquei sabendo que foram avisados duas ou três vezes que deveriam parar com o barulho, e que atenderam às solicitações.
Neste último dia, uma segunda-feira, todo mundo já nervoso e irritado (menos eu), os meninos disseram que, para conseguir terminar, precisariam dar 6 ou 7 marteladas e mudar o ângulo de um cano. Eu autorizei, porque considerei que 6 ou 7 marteladas não seriam assim tão incômodas, e já estávamos na fase de “se não terminarem hoje, não vou deixar que voltem amanhã”. Martela aí, nego.
Foram mesmo 6 ou 7 marteladas. E 1 porrada na porta. Abri, e um homem que eu nunca tinha visto antes gritou, com o dedo em riste: VOU MANDAR UMA MULTA!
– Ah, sim?
– SIM!
– Ok. Eu posso pelo menos saber quem é o senhor?
– O SÍNDICO!
Tim Maia, valei-me. Porque ele apenas gritou, o tempo todo em que esteve parado ali na porta. Sobre o regulamento interno, e sobre o barulho, e sobre a multa, a multa, a multa. Tinha ao seu lado uma testemunha que me disse que era preciso haver “governança corporativa”. Ora, eu sou secretária, mas sou formada em Administração de Empresas. Palavras difíceis – e completamente deslocadas – não tem qualquer poder sobre a minha pessoa.
Resumindo a história, eu fiquei indignada, bem como o vizinho de porta, que ouviu tudo e contou para todos os funcionários do prédio. Meu chefe, em apoio, fez uma carta ao condomínio, mencionando a civilidade do uso da campainha, a temeridade de gritar com alguém antes de se apresentar (poderia ser confundido com um bandido) e a mal sucedida aula de erudição que foi falar em governança corporativa numa questão que envolve o vizinho de cima (que não tem qualquer ligação corporativa com o vizinho de baixo) desferindo marteladas em horário proibido.
E então o Síndico escreve uma carta, coloca num envelope com as ordens expressas de que só fosse entregue nas mãos do proprietário do conjunto. E diz, nesta carta, que não houve aula de erudição, porque não teria sido entendida (por mim). Que ele gentilmente pediu que eu parasse com o barulho, que perguntou quem eu era, e se era a proprietária, que argumentou que já era a quarta vez que falava comigo a respeito e que, finalmente, eu tinha dito que pararia o barulho e aguardaria a multa.
Um verdadeiro jogo dos 7 erros. Primeiro, por tentar intimidar uma mulher, subalterna (que até então ele sequer sabia se era dona ou empregada) através da gritaria e do dedo no rosto. Segundo, por explicitamente desconfiar da minha idoneidade ao exigir a entrega da carta em mãos. Terceiro, por considerar, apenas olhando para mim uma única vez, que eu seria incapaz de compreender “aulas de erudição”. Quarto, por ignorar que testemunhos desinteressados desdizem a sua versão da história. Quinto por acreditar que ameaças monetárias assustam as pessoas. Sexto por defender seu direito a esmurrar as portas sem ser anunciado. E sétimo, o mais ingênuo de todos, por imaginar que eu tenha sequer pensado em parar o barulho. Àquela altura, depois da demonstração de macheza do rapaz, o que fiz foi fechar a porta e dizer aos trabalhadores: se tiverem que bater mais, batam, mas batam com vontade! Pena que eles já não tinham mais nada para bater…
É claro que eu, por minha conta, assumi o risco de levar uma multa. E claro que sabia até onde podia ir com o meu chefe, pois foi ele quem pagou a dita multa. Eu concordei com a multa justamente por saber que ela poderia acontecer. O inaceitável não foi receber a multa – e pagá-la até antes do vencimento – mas sim a maneira como o sujeito acreditou que poderia falar comigo.
Se ele foi movido por machismo, por preconceito ou por simples grosseria eu não sei dizer, justamente porque não o conheço. Não dá para a gente deduzir tanto de uma pessoa num único diálogo hostil. Por outro lado, achei interessante a maneira como ele afirmou, na sua cartinha cheia de erros, que eu tinha mentido e que seria incapaz de compreender o que quer que fosse que eles tivessem a dizer, seja sobre administração de empresas, futebol ou o ciclo de vida dos pintassilgos venezuelanos.
Sem radicalismos, mas é neste tipo de situação que eu questiono a nossa sociedade. Porque enquanto houver gente disposta a tratar alguém, seja por causa do gênero, da profissão ou da aparência, dessa maneira indigna, é sinal de que a gente ainda não evoluiu o suficiente. Eu aposto 10 contra 1 que a conversa teria sido completamente diferente se quem tivesse atendido à porta fosse o meu chefe, e não eu. Não haveria gritaria, não haveria arrogância ou ameaças.
Tenho muitas teorias a respeito de homens que gritam, homens que dão porrada em portas e paredes, homens que demonstram esse pouco sutil desprezo por outras pessoas. Mas nem vem ao caso. Importante mesmo é dizer que nada do que ele e outros como ele façam ou digam tem o poder de mudar minha segurança ou a imagem que eu tenho de mim mesma, construída com muito afinco. E ainda por cima sei o que é governança corporativa… tô podendo!
Faltou um detalhe, por acaso ele era baixinho?(olha o meu preconceito ! )e não dá pra saber, mas deve ter p.. pequeno, né não?
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Faltou um detalhe, por acaso ele era baixinho?(olha o meu preconceito ! )e não dá pra saber, mas deve ter um bem pequeno, né não?
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Anna Christina Saeta Reply:
maio 7th, 2013 at 17:33
hahahahahha! Pois é, sabe o que eu falei sobre as minhas teorias a respeito de homens com esse tipo de comportamento? Pois é. Mas não era baixinho, não, pelo contrário, um tipo bem alto e com voz alta e forte. Deve ser pior ainda, né? hahahaha
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Kaka Gualberto Reply:
maio 7th, 2013 at 18:01
Olha o fato dele ser alto também não quer dizer nada heim. Vai saber o "tamanho" do trauma do coitado!! kkkkkkkkkk
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Anna Christina Saeta Reply:
maio 7th, 2013 at 18:11
Só de pensar me dá tristeza, Kaka hahaha.
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A-ME-I o texto!
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Coitado – literalmente….
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HAHAHAHA É como a vez que o "mestre de obras" aqui em casa me quis enrolar, eu larguei: Sei que sou mulher, mas você há de convir que qualquer criança sabe que se você quebrou alguma coisa, TEM que arrumar por conta. Ele emudeceu. Não tenho certeza se foi pela parte que eu disse "sei que sou mulher" ou pela parte de "qualquer criança sabe". :p hahah
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O tipo ainda teve o desplante de enviar carta? lol
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