Coluna da Chris

Coluna a Chris: Deu na Mídia

 

Eu reconheço que me surpreendo, muitas e muitas vezes, quando percebo que, de fato, existe todo um “mundo gordo” organizado, proativo, contestador e quase desconhecido para a maioria das pessoas.

Não é que eu faça parte deste mundo, quero dizer: sou gorda, mas não sou ativista. As minhas ações resumem-se a reclamar dos preconceitos, a repudiar os mitos, a defender o direito de ser aquilo que quero ser e a alardear que gente bonita é bonita independente do peso. Tudo isso em meu próprio nome, pela minha própria causa, uma mulher que cansou de se sentir feia e inadequada unicamente porque outros dizem que ser gorda é feio e inadequado.

Ver imagens de mulheres gordas bonitas e confiantes em fotos bem produzidas me faz bem. Quebra um pouco o impacto do que a mídia convencional joga na nossa frente todos os dias como únicos exemplos possíveis de beleza feminina: magras, jovens, atléticas. E é para isso – ver fotos de divas gorduchas com sua sensualidade à toda prova – que eu “curto” algumas páginas no facebook. E estas páginas, além de fotos, trazem também informações desta grande comunidade virtual que eu chamo de “mundo gordo”.

Foi numa destas páginas que eu descobri que existia uma marca chamada Abercrombie & Fitch (sim, fashionistas de plantão, creiam-me, eu nunca tinha tomado ciência da existência deste nome), e que o CEO desta empresa muitíssimo bem sucedida, Mike Jeffries, teria dito, numa entrevista em 2006, que não fazia roupas de tamanhos grandes porque não queria que seus consumidores vissem pessoas não tão atraentes usando as mesmas roupas que eles. “É por isso que a gente contrata gente bonita nas nossas lojas. Porque gente bonita atrai gente bonita e nós queremos nos direcionar a pessoas legais e bonitas”.

A entrevista, embora antiga, suscitou muitas reações, desde ataques à própria aparência de Mike Jeffries a um Tumblr que mostra o resultado do protesto de um brasileiro que se dedica a captar doações de roupas da marca e distribuir entre moradores de rua. Mas a reação mais legal veio de uma modelo plus size chamada Jes, que fez um ensaio fotográfico maravilhoso ao lado de um modelo masculino não menos maravilhoso, com um texto que também achei… hmmm… maravilhoso. Esse ensaio.

Na sexta-feira, Mike Jeffries usou o facebook oficial da marca para publicar uma declaração sobre toda a polêmica. Em resumo, ele alega que a Abercrombie, como qualquer outra empresa, é voltada para um segmento X de consumidores e que ele é contra qualquer tipo de discriminação, bullying, caracterizações depreciativas ou outros comportamentos menos nobres com base na raça, sexo ou tipo de corpo. Diz, ainda, que os trechos da entrevista concedida em 2006 ao site Salon foram apresentados fora de contexto, e que isso gerou toda a confusão.

Honestamente? Ele que faça as roupas que quiser fazer. Feio é dizer que não quer que seus clientes com aparência X vejam pessoas com aparência X + usando as mesmas roupas porque isso não lhes daria a exata medida de quanto são “diferenciados”. Gente cool é cool independente da aparência dos outros, ou assim deveria ser. Finalmente, o Mike, aparentemente, nunca fez parte do grupo que ele mesmo chama de “cool kids”, quer dizer: talvez seja uma compensação por algum trauma juvenil… mas isso já é impressão minha.

A outra notícia que causou algum rebuliço foi o fato de a modelo brasileira plus size Fluvia Lacerda ter publicado umas fotinhas na sua fan page exibindo uma barriguinha que passou por algumas modificações. Uma barriguinha antes já linda, na medida certa para quem gosta de sustância.

Algumas das muitas fãs da Fluvia – considerada a Gisele das modelos plus – não gostaram. Se sentiram traídas, porque acharam que ela está emagrecendo demais. De novo, muita gente falou sobre o assunto, e de forma bastante contundente. A modelo foi se justificar, explicou que não é por ser modelo plus size que ela não tenha exigências quanto ao seu corpo. Que não faz apologia da obesidade e não apoia o sedentarismo. Sua preocupação é a saúde.

Bom, neste caso, eu só posso acreditar que, feliz ou infelizmente, as modelos acabam sendo mesmo “modelos”, no sentido mais amplo, para algumas mulheres, notavelmente as mais jovens. Para estas meninas, é importante sentirem-se representadas. As reações apaixonadas fazem parte da vida de quem se torna referência. Só não pode faltar respeito, mas questionamentos existirão. E se ela realmente tiver mudado o corpo – maravilhoso – dela, então ela terá mudado todo o conceito de “aceitação” para todas as meninas que se reconheciam nela, se aceitavam melhor por causa dela. Se a Gisele Bündchen amanhã engordasse uns 15 quilos, com saúde, temo que as reações fossem ainda piores… porque ser modelo é vender uma aparência, e isso vale para todas.

1 comentário

  1. Adriana Bastos disse:

    Como diria Raul Seixas – prefiro ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo… Contudo, quando se trata de um formador de opinião, o buraco é mais embaixo. Vai ter que aguentar a revolta dos seguidores que sentem lesados por ver esta crença jogada por ar e passarem a ser consideradas um fraude…

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