O corpo feminino é um templo. Adorado por homens (e também, é claro, por mulheres que o elegeram como ideal da beleza humana e objeto do desejo), ele é, este corpo, infinitamente mais festejado, exibido e julgado do que os corpos masculinos.
Uma parte não desprezível das mulheres, lamentavelmente, sente vergonha de seus corpos, ou de parte deles. Aquela celulite microscópica na coxa. A barriguinha positiva, positivíssima. A gordurinha nas costas, ou na dobra do braço. O centímetro a mais de quadril que para algumas vale o risco de uma lipoaspiração. Uma parte destas mulheres, ainda lamentavelmente, projeta pensamentos apocalípticos sobre o que sentiriam caso engordassem: não tirariam jamais a roupa na frente de ninguém!
Claro que isso é mesmo um pensamento apocalíptico. Imagino eu que apenas uma parcela pequena de pessoas, sejam homens ou mulheres, fosse de fato se privar de uma vida sexual e amorosa apenas porque seus corpos não se parecem com aquilo que eles consideram o ideal de beleza. Falamos aqui de corpos saudáveis e habitados por intelectos também saudáveis. A aparência não deveria ser motivo para que ninguém se privasse de nada na vida, muito menos do prazer. Corpos são capazes de dar e receber prazer, independente de seu tamanho.
Todos os clichês tão amplamente divulgados há séculos a respeito dos benefícios das roupas pretas ou das listras verticais são relativos. De fato, roupa nenhuma elimina quilos. Algumas podem eliminar centímetros, é certo, mas são poucos, pouquíssimos, e é de se duvidar que um pretendente considere que 82 centímetros de cintura sejam mais atrativos do que 85. Ou que uma mulher que aparente ter um quadril de 124 pareça muito mais esbelta do que a que libere seus 126 aos olhares externos.
Um homem que conheça, se aproxime e se interesse por uma mulher voluptuosa, mesmo que ela esteja usando roupas pretas sobre bermudas compressoras aliadas a espartilhos dificilmente esperará que, ao cair das luzes e das peças do vestuário, vá encontrar uma falsa-gorda retilínea, esbelta, isenta de gordurinhas. Roupas são peças que cobrem o corpo, mas que não tem poderes mágicos de eliminar volumes. Um homem que se aproxime de uma mulher gorda sabe que ela é gorda e tem uma ideia bastante acurada de como será a sua aparência quando despida. Ele a deseja do jeito que ela é.
Sendo assim, porque é que tirar a roupa deveria ser motivo de vergonha? É claro que uma roupa bonita e que valorize o tipo físico de quem a veste dá um up na aparência, mas não é sobre isso que quero falar… hoje. Pretendo passar horas escrevendo sobre roupas, e sobre como a moda plus size mudou e se expandiu nos últimos anos. Mas isso vai ter que esperar.
Esperar que eu diga, por exemplo, que há um número não desprezível de homens que tem verdadeira adoração por mulheres gordas. São homens que colocam anúncios na internet expressando claramente suas preferências, e que colocam a aparência como condição exclusiva para um relacionamento. Estes homens não concebem a beleza feminina sem fartura, curvas e outras fofuras apertáveis e degustáveis através do paladar, do tato, do olhar. Para eles, quanto mais tiverem onde pegar e se agarrar, melhor.
Tenho que dizer também que há um número suficiente de homens que amam uma mulher, e não a forma de seu corpo, que não as escolhem por serem grandes ou pequenas. Homens para quem o mais importante não são aquelas medidas que podem ser auferidas pela fita métrica, mas sim a medida do carisma, da inteligência, da alegria, da vivacidade, da autoconfiança, do bom humor – ou mau humor, a seu gosto.
Homens que enxergam mais e melhor, e para quem o corpo feminino não é um fim, e sim um meio, um meio delicioso e cheio de possibilidades. E é desses que a gente gosta.
É isso mesmo, Chris, o que importa nas pessoas é a inteligência, a simpatia, o bom humor, a alegria…
Seu texto é impecavel, como sempre, aliás. Beijos
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Anna Christina Saeta Reply:
fevereiro 5th, 2013 at 18:08
Tudo isso + um corpinho roliço e macio, bah, daí pronto, fica perfeito, hahahah
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A natureza feminina vai muito além de um corpinho roliço ou magrelinho. São poucos da esfera masculina que entendem isso! Como sempre, um belo e gostoso texto!
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Olha você disse tudo: medida do carisma, da inteligência, da alegria, da vivacidade, da autoconfiança, do bom humor
Eu sou gordinha e saudável, claro que tento me manter em forma mas pelo motivo da saúde não para criar mais um esteriótipo de mulher magra e gosto do meu corpo mas alimento muito minha alma.
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@Marilia Alves – que bonito, Marília, gostei. Eu também procuro cuidar do meu corpo, mas por mim, e não para me enquadrar em nada. Felicidade deixa a gente bonita :))
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